Agonia vem da raiz grega agonia (agon), “luta” pela vitória, nos jogos. No uso corrente, significa a luta e esforço orgânico sobre a morte. Em sentido cristão, a luta pode ser contra o inimigo e pela vida eterna. Aplicada às doenças, agonia é o estado da pessoa doente que precede a sua morte. À sétima fase ou estágio do doente terminal, Kubler-Ross (a grande estudiosa destes processos) chama decatexis ou desapego da vida, a que se seguirá a agonia. Carateriza-se por um conjunto de sintomas-sinais de pré-morte, de duração variável para cada agonizante, processo lento ou rápido, até ao apagar-se observável da autoconsciência. Manifesta-se por respiração ruidosa, ofegante, perturbação dos sentidos e do estado de consciência. Progride com lividez, secura da língua, fraqueza do pulso, extinção gradual do calor no sentido periferia centro. A respiração torna-se difícil e impercetível como último sintoma observável. Há três definições de morte. A última expiração ou suspiro é sinónimo de morrer (ekpneo, deixar sair o pneuma, o espírito). Contudo, o coração merece o epíteto de ultimum moriens (o último a morrer) da definição de morte cardíaca. A morte cerebral, mais decisiva, dá-se quando cessam e se tornam irreversíveis os impulsos elétricos e metabólicos do cérebro; e é confirmada por outros sinais e reflexos dos olhos. Há agonias tranquilas e agitadas em movimentos convulsivos, mais ou menos violentos, acompanhadas de delírios contínuos ou intermitentes, até uma aparente serenidade do repouso orgânico. Nas tradições culturais cristãs, os agonizantes são rodeados de cuidados (hoje, paliativos, de amparo), para alívio físico e conforto espiritual. A presença continuada de cuidadores, familiares; o recurso à oração e os sacramentos antecipados aos crentes, em ambiente de fé, constituem antecâmara de eternidade. Os cuidados paliativos de morte assistida (distinta de eutanásia e suicídio assistido) aliviam e confortam a pessoa doente. A fé cristã na esperança da vida eterna do doente, dos familiares e sacerdote, e, eventualmente, dos outros cuidadores, integra os cuidados holísticos e reduze o medo da morte. A expressão de fé cristã “já passou desta para melhor” (vida) exprime a esperança cristã, sem fazer da morte tabu ou eutanásia. As experiências próximas da morte, estudadas nos períodos de pós-coma prolongado (EQM), sugerem que os sujeitos vivem estados alterados de consciência extraordinários, bastante diferentes da agonia, e diversas explicações mostram que a consciência e a memória podem funcionar nos longos períodos de estado de coma.
Bibliog.: AFONSO, Pedro e CABRAL, Miguel (coord.), Reflexões sobre Ética Médica, Cascais, Princípia, 2019; DORADO GUTERREZ, A. y POSTIGO MOTA, S., “La agonia en el paciente en situacion terminal”, Rol de Enfermería, 43, 5, 2020, pp. 355-361; KUBLER-ROSS, Sobre a Morte e o Morrer, Editora Martins Fontes, São Paulo, 1985; GAMEIRO, Aires, Novos Horizontes da Viuvez, Lisboa, Edições Paulinas, 1988.
Aires Gameiro