“Abstração” pode ser entendida como um processo mental, como o resultado desse processo, ou como uma qualidade. No primeiro sentido, refere-se ao processo pelo qual se isola (ou “abstrai”) um aspeto comum ou uma relação, observados num conjunto de objetos, e que permite formar conceitos (ou “ideias abstratas”). Assim, por exemplo, observando vários pares de linhas paralelos, pode-se abstrair a relação “ser paralelo”. Uma abstração, portanto, refere-se a uma ideia geral e o adjetivo “abstrato” opõe-se a “concreto”, já que o último refere alguma coisa particular, enquanto “abstração” designa um tipo, categoria, noção ou ideia geral sob a qual esse particular pode ser concebido. Assim, por exemplo, “círculo” é uma abstração, mas a moeda que tenho no bolso, este prato de jantar ou outros objetos circulares particulares são concretos. A capacidade de abstração é uma faculdade cognitiva que se desenvolve com o amadurecimento humano e é considerada fundamental para o exercício do raciocínio e para a faculdade de julgar.
A forma como este processo acontece, o seu papel na formação de ideias e a sua relação com o conhecimento estão no centro de polémicas filosóficas em metafísica e epistemologia desde a Antiguidade, como a controvérsia acerca da existência dos universais, a questão de saber se as ideias são inatas ou adquiridas através da experiência e o problema de saber se o conhecimento é de universais ou indivíduos.
Embora a própria definição de objeto abstrato seja uma dificuldade filosófica, é comum afirmar que aquilo que o caracteriza é ser uma entidade não espaciotemporal. Na filosofia contemporânea, é mais comum defender-se que são também causalmente inertes, ao contrário do que era defendido sobre as formas na teoria platónica. Contudo, esta definição não está isenta de problemas, como o facto de excluir alguns objetos considerados abstratos, entre os quais as línguas, que são temporais, já que têm uma existência temporal: surgem, têm um início a determinado ponto no tempo, e sofrem alterações e desenvolvimentos, mudanças, com o tempo. Além disso, esta forma de definir parece dizer apenas o que os objetos abstratos não são, e não o que são.
Bibliog.: KIM, Jaegwon, “Abstraction”, Encyclopædia Britannica, 17.06.2017, https://www.britannica.com/science/abstraction (acedido a 30.12.2020); RODRIGUEZ-PEREYRA, Gonzalo, “Nominalism in Metaphysics”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2019 Edition), Edward N. Zalta (ed.): https://plato.stanford.edu/archives/sum2019/entries/nominalism-metaphysics/ (acedido a 30.12.2020); ROSEN, Gideon, “Abstract Objects”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2020 Edition), Edward N. Zalta (ed.): https://plato.stanford.edu/archives/spr2020/entries/abstract-objects/ (acedido a 30.12.2020).
Joana Correia Monteiro