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Nome

Nos escritos bíblicos, assim como nas literaturas do seu contexto cultural, o nome (em hebraico, shem; em grego, ónoma) mantém uma ligação intrínseca com a realidade nomeada, o que tem consequências ao nível da interpretação da linguagem da Bíblia e, portanto, da exegese. Nestas culturas, a imagem também se confundia com a pessoa representada, o que dava azo à crença de que um qualquer deus residia, de facto, na sua própria imagem. Este último exemplo dava uma certa consistência subjetiva ao politeísmo reinante. A relação nome-realidade, significante-significado, é pertinente, tanto em relação a pessoas como a instituições. Assim, ao primeiro homem foi dado o nome Adam/Adão, porque tem origem, foi tirado, na/da ’adamah (“terra”).

Na Bíblia, é frequentemente dada, de modo explícito, a razão do nome de alguém: “Que o meu senhor não faça caso desse mau homem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor enviou” (1Sm 25, 25). Outras vezes procuram-se etimologias, mesmo fictícias, para saber o sentido do nome de uma pessoa ou coisa, a fim de “adivinhar” o seu destino ou missão. E quem não tiver nome não existe (Ecl 6, 10), pelo que eliminar o nome de alguém equivale a matar a própria pessoa. É igualmente interessante o facto de “dar o nome” a uma pessoa ou a uma coisa como sinal de autoridade sobre ela ou mesmo de posse da mesma. Foi o caso de Adão, que deu o nome a todos os animais, como sinal de posse ou senhorio sobre eles (Gn 2, 19-20). O mesmo fez a sua esposa, chamada ishshah (feminino de ish, “homem”), passando a chamar-se Eva, “porque ela seria mãe de todos os viventes” (Gn 3, 20), i.e., de igual ao homem, passou a ter, simplesmente, a função de gerar filhos para o marido.

Num tempo em que as pessoas eram muito devotas e atribuíam especiais forças a um determinado deus, costumavam também incluir no nome de alguém, ou de um lugar, o próprio nome de Deus ou mesmo de um qualquer deus. As pessoas acreditavam que, desse modo, teriam a proteção divina. Estes nomes são, por isso mesmo, chamados teofóricos, sendo muito comuns na Bíblia.

Por vezes, também, o nome significa a função, a missão, que a pessoa exerce ou está chamada a exercer. Assim, a razão de o próprio Jesus ser chamado com este nome pode verificar-se no seguinte texto: “Andando ele [S. José] a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: ‘José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1, 20-21). O nome “Jesus” significa, em hebraico, “salvador” (Yeshua‘, do verbo yasha‘, “salvar”). Por isso, o anjo, sabendo que Ele veio para salvar a humanidade, impõe que José lhe dê o nome Salvador. É igualmente muito conhecida a mudança do nome do apóstolo Simão, nome que Jesus mudou para Pedro, dizendo: “Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela” (Mt 16, 18; ver Gn 3, 20; 17, 5.15; 32, 29; 41, 45). De facto, Pedro terá a missão especial de ser a Pedra sobre a qual assentou a organização hierárquica da Igreja de Cristo.

De tudo isto se conclui que, ao conhecer-se o nome, se conhece a realidade, a própria pessoa, entrando de imediato em contacto com ela ou com um ser divino. Por isso, para que a oração a um deus fosse eficaz, era necessário conhecer o seu nome, para que, desse modo, a oração fosse dirigida à pessoa a quem se destinava e não se perdesse. É também por este motivo que o juiz Manoé pergunta o nome do “anjo” que lhe anuncia o nascimento de Sansão: “Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: ‘Qual é o teu nome? Pois queremos prestar-te homenagem, quando se realizarem as tuas palavras’. E o anjo do Senhor disse-lhe: ‘Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!’” (Jz 13, 17-18). Este facto manifesta o respeito que o ser humano deve ter pelos seres superiores, i.e., pelo próprio Deus.

 

Bibliog.: ALVES, Herculano, “Nome”, in 50 Símbolos na Bíblia, Fátima, Difusora Bíblica, 2017, pp. 299-307; BIETENHARD, H., “Nome/Ónoma”, in COENEN, L. et al. (eds.), Diccionário dei Concetti Biblici del Nuovo Testamento, Bologna, EDB, 1976, pp. 1092-1098; “Nom”, in Dictionnaire Encyclopédique de la Bible, Turnhout, Brépols, 1987, pp. 903-904; RINGGREN, Helmer, “Shem”, in BOTTERWECK, G. Johannes et al. (eds.), Theological Dictionary of the Old Testament, vol. 15, Grand Rapids, W. M. B. Eerdmans Publishing Company, 1993, pp. 128-175.

 

Herculano Alves

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