A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

Adaptação

Do latim adaptare (“ajustar”, “tornar capaz de”), a adaptação refere-se à capacidade de o ser humano se ajustar eficaz e rapidamente a circunstâncias alteradas da sua existência. Este ajustamento pode ter uma natureza física ou psicológica e ocorrer perante eventos que o próprio classifica como positivos, negativos ou neutros.

Não obstante a experiência de distress ou sofrimento psicológico que em parte pode caracterizar um processo de adaptação, este é pautado pela mobilização de recursos psicológicos e sociais que permitem ao indivíduo fazer uma regulação cognitiva, comportamental e emocional em resposta à mudança, novidade, variabilidade e incerteza. A adaptação resulta de uma contínua reavaliação da satisfação das necessidades psicológicas em favor do ajustamento não só às mudanças internas/psicológicas do indivíduo, mas também às mudanças externas e do meio, e, nesse sentido, é também a capacidade de se alterar internamente em resultado das mudanças externas que caracteriza a sua funcionalidade ou disfuncionalidade. Apesar de a conotação habitual do conceito ser positiva, é importante ressaltar que a adaptação pode levar tanto a desfechos positivos como a negativos. A desadaptação, refletida nestes últimos, descreve a incapacidade do indivíduo para gerir duma forma eficiente os desafios que enfrenta, o que o impede criar uma harmonia entre si e o meio.

Tendo em conta que a realidade é bastante volátil e está sempre em constante mudança, o grau de competência com que alguém se adapta positivamente é um barómetro do bem-estar e da qualidade subjetiva da sua vida. Entre as estratégias adaptativas que ajudam a atenuar o impacto psicológico dos acontecimentos adversos na vida dos sujeitos, os estudos mais recentes têm encontrado elementos como a fé pessoal e o envolvimento dos sujeitos em práticas religiosas e espirituais, de uma forma isolada ou inseridos em comunidades que partilham as mesmas crenças e costumes. Ao apoiarem-se na religião/espiritualidade, os indivíduos trazem para o seu processo de ajustamento um conjunto de funções que os ajudarão a integrar a mudança e que estão habitualmente atribuídas à experiência religiosa, como é o caso da busca de sentido para interpretar e aceitar o sofrimento, o aumento da perceção de controlo, o conforto e proximidade com o divino, a intimidade e suporte social, através de outros significativos da sua comunidade espiritual, e a possibilidade de crescimento e transformação de vida.

 

Bibliog.: CHANDRA, S. e LEONG, F., “A diversified portfolio model of adaptability”, American Psychologist, n.º 71, 9, 2016, pp. 847-862: https://doi.org/10.1037/a0040367 (acedido a 11-03-2022); DWECK, C. S., Mindset: The New Psychology of Success, New York, Random House, 2006; HOYLE, R. H., “Personality and self-regulation”, in HOYLE, R. H.  (ed.), Handbook of Personality and Self-Regulation, Oxford, Wiley-Blackwell, 2010, pp. 1-18; LAZARUS, R. S. e FOLKMAN, S., Stress, Appraisal, and Coping, New York, Springer, 1984; MARTIN, A. J. et al., “Adaptability: Conceptual and empirical perspectives on responses to change, novelty and uncertainty”, Australian Journal of Guidance and Counselling, n.º 22, 2012, pp. 58-81; NELSON, J., Psychology, Religion, Spirituality, New York, Springer, 2009; PARGAMENT, K. I. e BRANT, C., “Religion and coping”, in KOENIG, H. (ed.), Handbook of Religion and Health, California, Academic Press, 1998, pp. 112-129; VANDENBOS, G. R. (ed.), APA Dictionary of Psychology, 2.ª ed., Washington, DC, American Psychological Association, 2015.

 

Carla Tomás

 

Autor

Scroll to Top