“Adversidade” é um termo polissémico que abrange uma variedade de definições, sendo muito usado sobretudo nos estudos sobre a resiliência. Nas publicações científicas, a sua definição surge ligada a inúmeras expressões utilizadas para a referenciar: “adversidades psicossociais”, “condições adversas”, “contextos desfavoráveis”, “experiências de abuso”, “eventos de vida negativos”, “stress” ou “caos na vida”, “circunstâncias adversas”, “trauma”, etc. As diferentes expressões identificadas referem-se a um tipo de adversidade que é interpessoal, familiar, material, ambiental, económica, etc., por vezes múltipla (em termos de cadeias ou adversidades acumuladas), num contexto particular (circunstâncias, condições, situações, etc.), num determinado momento (passado, etc.), de uma intensidade variável, mas sempre profunda (devastação, desespero, significativa, grave, horrível, trauma, etc.), e de uma duração específica (duradoura, crónica, persistente, intermitente, ocasional).
A adversidade funda-se na hipótese de uma (ou mais) situação/ões desfavorável/eis, colocando em risco o sentimento de coesão da pessoa ou representando um risco de vida, i.e., a adversidade ocorre durante a união da consciência e do corpo, do pensamento e da linguagem, da política e da história, abrangendo tanto o trauma (essencialmente psíquico) como os acontecimentos desestruturantes, negativos da vida pessoal e social, mas que devem ser diferenciados das condições de privação, estabelecidas a partir de padrões estabelecidos pela sociedade.
Ora, a espiritualidade, assim como a arte ou o desejo de aprender, surge somente quando o ser humano atinge o equilíbrio relativamente às suas necessidades essenciais. O essencial precede toda a espiritualidade, i.e., para aceder à espiritualidade, é necessário ir à base das necessidades humanas, acolhendo o outro no seu sofrimento. É necessário alimentar, vestir, proteger, ouvir, amar, reconhecer, estar presente e auxiliar na adversidade para a espiritualidade acontecer. A passagem do evangelho assinala: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo [Jesus] o fizestes” (Mt 25, 40).
Bibliog.: ANANI, N. et al., La Résilience Économique face à l’Adversité. De la Survie à la Prospérité, Ottawa, Conseil des Technologies de l’Information et des Communications, 2020; HUND-MEJEAN, Martina e ESCOBARI, Marcela, “Our employment system has failed low-wage workers. How can we rebuild?”, Brookings, 28 abr. 2020: https://www.brookings.edu/blog/up-front/2020/04/28/our-employment-system-is-failing-low-wage-workers-how-do-we-make-it-more-resilient/ (acedido a 11-03-2020); RABSON, Mia, “Investing in climate goals could play key role in coronavirus economic recovery”, Global News, 9 abr. 2020: https://globalnews. ca/news/6802214/environment-investment-coronavirus-recovery/ (acedido a 11-03-2022); XIA, Xiaoyan, “Une lecture de ‘L’Homme et l’adversité’: L’adversité et le problème de l’Homme et du monde chez Merleau-Ponty”, Revue Transversales du Centre Georges Chevrier, n.º 10, fev. 2017: http://tristan.u-bourgogne.fr/CGC/prodscientifique/Transversales.html (acedido a 11-03-2022).
Domingos Lourenço Vieira