Como o nome (’arôn ha-berît) indica, a Arca da Aliança era uma espécie de cofre que se destinava a guardar o documento da Aliança do Sinai, os Dez Mandamentos. Era feita de madeira de acácia e colocada num palanquim, a fim de ser transportada facilmente, na vida nómada e, por vezes, nas batalhas, isto antes da construção do Templo (Ex 25, 10-16). Tinha uns 125 cm de comprimento por 75 cm de largura, e praticamente o mesmo de altura. Quando se fazia um tratado ou aliança, era costume guardar o documento feito entre as duas partes, no caso da Aliança do Sinai entre o povo de Israel e Javé, pelo que era também chamada “Arca do Testemunho” (’arôn ha-‘edût: Ex 26, 33; 40, 21). Nos livros de Samuel, é também chamada “Arca de Deus” (’arôn há-’elohîm, 22 vezes) e “Arca de Javé” (’arôn Yhwh, 25 vezes). O Deuteronómio (Dt 10, 8; 31, 26) chama-lhe “Arca da Aliança” (’arôn ha-berît).
Por cima da arca havia uma cobertura (kappóret, de kapar, “cobrir”) chamada “propiciatório”, que se acreditava ser o lugar onde o Deus altíssimo colocava os seus pés na terra. Por isso, além de símbolo da “presença” de Deus no meio do seu povo, a arca, com o “propiciatório”, simbolizava o escabelo onde o Rei do Céu e da terra assentava os seus pés (1Cr 28, 2; Sl 99, 1.5; 132, 7). Esta ideia de Javé-Rei é ressaltada também pelos dois querubins que guardavam a arca, figuras míticas das culturas desse tempo, encarregadas de guardar os palácios reais e os templos. Assim, arca e querubins estavam relacionados com o trono de Javé no seu templo (Jr 3, 16-17).
Como a arca guardava a Palavra de Deus, proclamada no Sinai, que era sinónimo da presença e morada (shekkinah) de Deus, tal presença era merecedora de um pequeno santuário. Ora, na vida nómada, o santuário tinha de ser móvel, pelo que era integrado numa tenda, que se passou a chamar “tenda da reunião”, ou “tenda do encontro” (’ohel mo‘ed), porque era nela que Deus se “encontrava” com Moisés e outros representantes do povo, descida que se exprimia no símbolo de uma nuvem (Ex 33, 7-9; Nm 11, 24-25; 12, 4-10). Assim, a arca era o lugar da presença permanente, e a tenda o lugar do encontro com os representantes do povo. Mais tarde, no tempo de Davi, a arca foi levada para Jerusalém, na sua tenda, que aí permaneceu como lugar oficial do culto até à construção do Templo por Salomão. Então foi colocada no lugar mais sagrado, o Santo dos Santos (debir; 1Rs 8, 13; Sl 132, 14).
A arca em si era vista como santa, porque nela morava a própria divindade: Deus tinha pronunciado o seu nome sobre ela e guardava a Lei (2Sm 6, 2). Por isso, mais tarde, Ezequiel também chamará ao Templo “o lugar do trono do Senhor”, onde Ele colocava os seus pés (Ez 43, 7). Era “aos pés de” Deus que se colocavam os documentos da Aliança, sua palavra sagrada, que Ele guarda, exigindo também que se cumpra. “Colocar aos pés” duma divindade um documento era sinal de compromisso com ela.
O modo como a arca foi feita é revelado por Deus a Moisés, segundo os princípios próprios usados naquele tempo para um lugar sagrado. Se era morada de Deus, tinha de ser feita segundo planos celestes (Ex 25, 10-16).
Bibliog.: BEAUCAMP, Évode, Les Grands Thèmes de l’Alliance, Paris, Cerf, 1988; FOCANT, Camille (dir.), Quelle Maison pour Dieu?, Paris, Cerf, 2003; Von RAD, Gerhard, “El Tabernaculo y el Arca”, in Estudios sobre el Antiguo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1976, pp. 103-121; YUNES, Eliana e BINGEMER, Maria Clara, Os Dez Mandamentos, São Paulo, Loyola, 2003.
Herculano Alves