Os principais termos para traduzir o sentido de “caminho”, “caminhada”, são “dèrèk”, em hebraico, e “hódos”, em grego. O conjunto dos termos que significam “caminho”, “caminhar”, surge na Bíblia umas 700 vezes, muitas das quais no sentido simbólico, metafórico, de comportamento moral, religioso e espiritual. Nesse caso, “caminho” pode significar justiça, retidão, modo de vida. Assim, um caminho, uma caminhada, que tem um início e um fim, é comparado à vida de uma pessoa, que tem igualmente um princípio e um fim. A caminhada da vida, porém, deve ser feita segundo um certo ritmo e um determinado modo de caminhar; esse modo é o mais importante, i.e., o comportamento para com os que caminham ao nosso lado. Portanto, a nossa caminhada na vida é um privilégio que o Senhor da vida nos concede, mas que também exige a nossa resposta a esse dom. Exige caminhar pelos caminhos do Senhor, i.e., fazendo a sua vontade, como Ele pede a Abraão: “Eu sou o Deus supremo. Caminha na minha presença e sê perfeito” (Gn 17, 1). Por isso é que, frequentemente, no Antigo Testamento, se fala dos dois caminhos: o caminho do justo e o caminho do ímpio. Este último é o que não dá importância à Palavra de Deus (Sl 1; Jr 21, 8). Portanto, a Palavra de Deus deve ser o programa da caminhada da vida, e Deus é o termo dessa caminhada (Jo 14, 1-4; Hb 10, 19-22).
Segundo o que vimos dizendo, é muito significativo que o próprio Jesus se defina como “Caminho”: “‘Quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho’. Disse-lhe Tomé: ‘Senhor, não sabemos para onde vais; como podemos nós saber o caminho?’ Jesus respondeu-lhe: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim’” (Jo 14, 3-6). Neste texto, torna-se claro que Jesus veio ao mundo para nos oferecer o roteiro certo para a nossa caminhada da vida, onde se encontra o nosso modo de caminhar. Esse roteiro é o Evangelho, e estar disponível para o viver é o verdadeiro sentido da caminhada neste mundo. Ele é o único mediador, o caminhante, que vai à nossa frente para nos fazer chegar, com segurança, ao destino certo. Jesus afirma ainda que não é indiferente, para o ser humano, seguir por um caninho ou por outro: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!” (Mt 7, 13-14). O próprio Jesus ensina-nos que o seu caminho não é um caminho de glória, mas oferta da própria vida pela humanidade, quando se encaminha para Jerusalém como profeta de uma Palavra que irá trazer a morte: “Hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13, 33). Assim, o discípulo é chamado a seguir o “caminho sagrado”, a “Via sacra” de Jesus.
O Novo Testamento apresenta 46 vezes o “caminho” em sentido figurado, espiritual. Os primeiros missionários cristãos, que levaram o evangelho por todos os caminhos do Império Romano, deram à comunidade o nome Caminho, Via (hódos) (At 2, 28; 8, 36.39; 9, 2; 18, 25.26; 19, 9.23.24; 24, 14.22). Nesse caso, a comunidade cristã é constituída pelos “caminhantes”, que seguem de perto a Cristo, pelo “caminho” que Ele traçou, no evangelho.
Bibliog.: ALVES, Herculano, 50 Símbolos na Bíblia, 3.ª ed., Fátima, Difusora Bíblica, 2017; EBEL, G., “Camino, comportamento”, in COENEN, L. et al. (eds.), Diccionário Teológico del Nuevo Testamento, vol. 1, 5.ª ed., Salamanca, Ed. Sígueme, 2003; KOCH, Klaus, “Dèrèk”, in BOTTERWECK, G. et al. (eds.), Theological Dictionary of the Old Testament, vol. 3, reimpressão, Grand Rapids, W. B. Eerdmans Publishing Company, 1993.
Herculano Alves
