A origem desta solenidade, celebrada na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, encontra-se no despertar da devoção eucarística que se desenvolveu a partir do séc. xii, acentuando particularmente a presença real de Cristo no sacramento e a sua adoração. Neste contexto, as visões de Juliana de Cornillon, monja agostiniana, tiveram um papel decisivo para a introdução desta festividade, que pela primeira vez se celebrou na Diocese de Liège, em 1247. Urbano IV, que tinha sido arquidiácono de Liège e confessor de Juliana, prescreveu-a para toda a Igreja em 1264.
Esta festividade, que teve nos primeiros séculos de existência diversas denominações, encontra-se no Missal Romano de 1570 com a designação de “Santíssimo Corpo do Senhor” (Corpus Domini). Na ordenação litúrgica contemporânea recebeu a designação de “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”. Esta denominação exprime melhor uma visão integral do sacramento e pretende incluir também a temática da supressa festividade do Preciosíssimo Sangue de Jesus, que era celebrada no dia 1 de julho. Os textos eucológicos da celebração, que se mantiveram no Missal Romano de 1970, têm uma perfeita unidade e, se não são da autoria de S. Tomás de Aquino, como querem alguns, refletem pelo menos a sua doutrina: a eucaristia, memorial da Paixão de Cristo, sacramento da unidade dos fiéis com Cristo e entre si, prefiguração do banquete eterno.
Esta solenidade é, de certa forma, um duplicado de celebração da Missa da Ceia do Senhor, celebrada em Quinta-Feira Santa. Trata-se, no entanto, de uma celebração que encontra as suas raízes mais profundas na piedade do povo cristão.
Bibliog.: AUGÉ, Matias, “As festas do Senhor, da Mãe de Deus e dos santos”, in AUGÉ, Matias et al. (coord.), Anámnesis 5: O Ano Litúrgico: História, Teologia, Celebração, São Paulo, Paulinas, 1991, pp. 231-275; JOUNEL, Pierre, “Le culte des saints dans l’Eglise catholique”, La Maison Dieu, n.º 147, 3, 1981, pp. 135-146.
Bernardino Costa