O termo “demonstração” (apodeixis), indicando uma dedução que produz conhecimento, é analisado de forma sistemática por Aristóteles na sua obra Segundos Analíticos, que complementa os Primeiros Analíticos. Ambas fazem parte das obras lógicas de Aristóteles. Após tratar os vários componentes do discurso humano, desde o significado e função de termos individuais na frase até à combinação de proposições para formar silogismos, Aristóteles desenvolve um método de obtenção e confirmação do conhecimento humano. A demonstração prende-se com o pensamento científico e o modo de o expressar e expandir.
Em os Segundos Analíticos, Aristóteles trata a questão das definições e do processo de dedução científica que usa silogismos para a obtenção de novo conhecimento a partir de dados já conhecidos. Os silogismos levam, por uma dedução válida, a uma conclusão que se segue, de forma necessária e válida, das premissas. Enquanto em os Primeiros Analíticos Aristóteles estabelece as regras para a formação de silogismos válidos, e explica os formatos válidos de silogismos, nos Segundos Analíticos, aprofunda o que constitui o conteúdo dos silogismos, incluindo definições. Na primeira parte da obra, o tema da dedução é desenvolvido do ponto de vista lógico, e, na segunda parte, a demonstração é analisada como meio de obter conhecimento científico e empírico. Um dos elementos principais da demonstração é a causalidade, na medida em que, num silogismo, as premissas são causa da conclusão.
A causalidade serve também para explicar fenómenos naturais. “Causa” significa igualmente, neste contexto, explicação, e o conhecimento demonstrativo é conhecimento das causas. A demonstração estabelece o que existe e o porquê da sua existência. A demonstração completa o âmbito das obras lógicas de Aristóteles e deve ser utilizada como instrumento do conhecimento científico. Esse conhecimento deve ser necessário e universal. Nesse sentido, a demonstração difere da dialética, que consiste num método experimental de descoberta filosófica. A demonstração indica o conhecimento indubitável e está ainda na base da ciência e da descoberta científica. Combina as disciplinas da lógica e da epistemologia, e também a ontologia, a filosofia da linguagem e a filosofia da ciência.
Idade Média
No período medieval, vários filósofos expandiram a teoria da demonstração, que diz respeito ao conhecimento em geral, para abranger ciências como a teologia, além das ciências naturais. Essa teoria dominou o discurso teológico e científico até ao advento da nova ciência moderna, com o surgimento do novo método científico.
Bibliog.: impressa: ARISTÓTELES, The Complete Works of Aristotle. The Revised Oxford Translation, vol. 1: Posterior Analytics, trad. e ed. BARNES, Jonathan, Princeton, Princeton University Press, 1984; CHIBA, Kei, “Aristotle on Heuristic inquiry and demonstration of What It Is”, in SHIELDS, Christopher (coord.), The Oxford Handbook of Aristotle, Oxford, Oxford University Press, 2012; SHIELDS, Christopher (coord.), The Oxford Handbook of Aristotle, Oxford, Oxford University Press, 2012; digital: LONGEWAY, John, “Medieval theories of demonstration”, in ZALTA, Edward N. (ed.), The Stanford Encyclopedia of Philosophy, spring 2009 edition: https://plato.stanford.edu/archives/spr2009/entries/demonstration-medieval (acedido a 13.10.2020); SMITH, Robin, “Aristotle’s Logic”, in ZALTA, Edward N. (ed.), The Stanford Encyclopedia of Philosophy, fall 2020 edition: https://plato.stanford.edu/archives/fall2020/entries/aristotle-logic/ (acedido a 13.10.2020).
Catarina Belo