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Desenvolvimento

A palavra “desenvolvimento” é composta por “des” (prefixo de negação), “en” (movimento para dentro), “volver” (reverter, virar) e “mento” (sufixo que se refere a ação). Pode ser traduzida por movimento intencional para fazer crescer, progredir, mas também para examinar todos os aspetos, tirar consequências, desembrulhar, fazer aparecer o que estava tolhido, criar algo novo (Dicionário Priberam, 2021), leituras que se complementam, mas também remetem para formas distintas de encarar o conceito.

A primeira leitura, de carácter redutor, identifica desenvolvimento com crescimento material, industrialização, urbanização. Surgiu com a emergência do capitalismo. Numa perspetiva evolucionista e linear, alimenta a ideia de que o incremento económico gera progresso em todos os sectores da vida social. Valida o que se pode quantificar, fomenta a distância entre “países desenvolvidos” e “países subdesenvolvidos”. Os factos provaram que não é via para um desenvolvimento de escala humana (MAX-NEEF, 1994), mas ainda hoje se mantém na linguagem do senso comum e em muitas políticas.

Numa visão ecológica, as teorias construídas na inter-relação das ciências demonstram a necessidade de um desenvolvimento multidimensional em que os fatores humanos são tão essenciais como os económicos. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que elabora o Índice de Desenvolvimento Humano desde 1990, tem vindo a juntar outros indicadores (taxa de alfabetização, esperança de vida, criminalidade, mortalidade infantil, pegada de carbono…), a defender a centralidade do bem-estar das pessoas e do planeta e a reforçar a ideia de que “são as disparidades entre países que levam economias com mais poder a capturar os benefícios e a exportar os custos” (NAÇÕES UNIDAS, 2020).

Uma terceira leitura é a da perspetiva integrativa. O desenvolvimento humano encarado num plano de responsabilidade individual, social, civilizacional. É processo-produto de transcendência, de criação de outras expressões e níveis não quantificáveis de ser humano (HEIDEGGER, 2007; COSTA, 2012) – assumindo o princípio da reciprocidade-complementaridade entre as espécies, os ecossistemas e o universo inteiro (BOFF, 1998); descobrindo a origem do humano no emocionar do amor (MATURANA, 2000); buscando o que realmente se é, construindo conhecimento não fracionado, encarnado, feito próprio, enraizado (SÉRGIO, 2005; TRIGO, 2011); criando alternativas para formar uma sociedade não indiferente à dor, baseada na reconciliação e na promoção da paz (FRANCISCO, 2020).

 

Bibliog.: impressa: BOFF, Leonardo, A Águia e a Galinha. Uma Metáfora da Condição Humana, Lisboa, Multinova, 1998; COSTA, Helena Gil da, Medo, Criatividade e Desenvolvimento Humano, s.l., Instituto Internacional del Saber, 2012; HEIDEGGER, Martin, Principios Metafísicos de la Lógica, Madrid, Síntesis, 2007; MATURANA, Humberto e REZEPKA, Sima Nisis de, Formação Humana e Capacitação, Petrópolis, Editora Vozes, 2000; SÉRGIO, Manuel, Para Um Novo Paradigma do Saber… e do Ser, Coimbra, Ariadne Editora, 2005; TRIGO, Eugenia, Ciencia e Investigación Encarnada, España, Instituto Internacional del Saber, 2011; digital: Dicionário Priberam: https://dicionario.priberam.org/desenvolvimento (26.02.2021); FRANCISCO, Carta Encíclica Fratelli Tutti, Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2021: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html (acedido a 03.10.2020); MAX-NEEF, Manfred, Desarrollo a Escala Humana. Conceptos, Aplicaciones y Algunas Reflexiones, Barcelona, Icaria, 1994: www.manfred.html (acedido a 03.10.2020); NAÇÕES UNIDAS, “Índice de Desenvolvimento Humano da ONU inclui variante pegada de carbono”, ONU News: Perspectiva Global Reportagens Humanas, 15 dez. 2020: https://news.un.org/pt/story/2020/12/1736222 (acedido a 26.02.2021).

 

Helena Gil da Costa

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