Originalmente, o termo “estereótipo” designa uma chapa de chumbo fundida (molde recortado) que reproduz a página de composição em vários exemplares impressos. A prancha estereotipada contém uma forma que reproduz o padrão da matriz. Na tipografia, o termo designa o clichê obtido por estereotipia (BECHARA, 2011, 608).
Do grego στερεότυπος (stereos + typos), “estereótipo” pode traduzir-se como “impressão sólida”. O termo é utilizado para designar uma opinião pronta, um lugar-comum, e funciona como um elemento capaz de sintetizar conceitos. Na comunicação oral, escrita ou visual, o seu carácter é funcional (DINIZ, 2006, 137). O estereótipo foi conceituado, nas ciências sociais, por Walter Lippmann, em 1922, na sua obra Opinião Pública (LIPPMANN, 2010). O estereótipo social articula-se como uma crença coletivamente partilhada atribuída a um agrupamento humano, mediante critérios (tais como idade, sexo, crença religiosa, etc.).
Aspetos como “repetição automática, invariabilidade, superficialidade, artificialidade” (AMÂNCIO, s.d., 31) levaram a que Roland Barthes considerasse a estereotipia um “terreno minado”. Na sua obra Aula, correspondente à aula magna que proferiu no Collège de France, a 7 de janeiro de 1977, Barthes faz questão de sublinhar o perigo do estereótipo, pois “em cada signo dorme este monstro” (BARTHES, 1978, 15). Para Antônio Amâncio, o estereótipo funciona como um “bloco de imagens compactas, redutoras e indissociáveis, que são postas em negociação social como uma coisa, uma produção quase inumana, uma imaginação em grau zero negando a quem a produz a dimensão de sujeito” (AMÂNCIO, s.d., 31).
Do ponto de vista da psicologia social, o estereótipo insere-se no campo das relações de dominação, segregação e isolamento, sendo considerado como preditor de comportamentos (componente pré-atitudinal). Para esta área de estudo, o estereótipo é a base do preconceito e é uma atribuição de crenças a grupos ou pessoas, de forma consciente ou inconsciente. A tendência humana de generalizar a partir de similaridades percebidas, de forma rápida, faz com que o estereótipo seja comum (TORRES e NEIVA, 2011, 223).
Bibliog.: AMÂNCIO, Antônio, “Em busca de um clichê (Panorama atual do Brasil no cinema estrangeiro de ficção)”, in SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DE CINEMA E AUDIOVISUAL (org.), Estudos de Cinema, vols. 2-3, São Paulo, Annablume, s.d., pp. 31-47; BARTHES, Roland, Aula – Aula Inaugural da Cadeira de Semiologia Literária do Colégio de França. Pronunciada Dia 7 de Janeiro de 1977, trad. e posfácio PERRONE-MOISÉS, Leyla, São Paulo, Editora Cultrix, 1978; BECHARA, Evanildo (org.), Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011; DINIZ, Maria Lúcia Vissotto Paiva, “Estereótipo na mídia: Doxa ou ruptura”, in COELHO, Jonas Gonçalves et al. (orgs.), O Futuro: Continuidade/Ruptura, Desafios para a Comunicação e para a Sociedade, São Paulo, Annablume, 2006, pp. 137-146; LIPPMANN, Walter, Opinião Pública, trad. WAINBERG, Jacques A., 2.ª ed., São Paulo, Vozes, 2010; TORRES, Cláudio Vaz e NEIVA, Elaine Rabelo, “Psicologia social no Brasil: Uma introdução”, in Psicologia Social: Principais Temas e Vertentes, Porto Alegre, ArtMed, 2011, pp. 31-57.
Fernanda Santos