Falibilismo, do latim fallibilis (“que pode falhar, errar”), é a conceção filosófica segundo a qual as teorias científicas, sem oferecerem verdades definitivas, são apenas conjeturas e hipóteses interpretativas da realidade, destinadas a serem refutadas e superadas por teorias mais válidas e funcionais. Teorizado por Peirce (1839-1914) e assumido por Karl Popper (1902-1994), o falibilismo assume que qualquer etapa da investigação científica está sujeita a erro, de modo que o investigador deve admitir que as suas conclusões são hipotéticas e provisórias. Invertendo a aparente evidência de que a teoria científica seria a portadora da certeza, ao invés, a característica própria da cientificidade de uma teoria consiste no falibilismo. A metafísica, para Popper, não é mais do que um conjunto de teorias e crenças sem sentido, como no neopositivismo; não é sequer a filosofia antes de Aristóteles ou o estudo das verdades últimas e transcendentes. Ela é simplesmente cada postulado, dotado de sentido e significado, que não é ciência porque nunca é falseável, mas que pode vir em auxílio da ciência, fornecendo-lhe ideias e prospetivas para o enquadramento dos problemas, podendo até, com o crescimento do conhecimento prévio, tornar-se ciência.
Bibliog.: MORIN, Edgar, La Méthode, vol. 3: La Connaissance de la Connaissance, Paris, Seuil, 1986; POPPER, Karl, Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific Knowledge, London, Routledge, 1962; Id., Objective Knowledge: An Evolutionary Approach, Oxford, Oxford University Press, 1972; SANTOS, José Francisco, Realismo e Falibilismo: Um Contraponto entre Peirce e Popper, São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006; VERONESI, Carlo, “Einstein’s influence on Popper’s thought/L’influenza di Einstein sul pensiero di Popper”, Scienza & Filosofia, n.º 16, 2016, pp. 133-147.
Luís Miguel Larcher Cruz