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Fermento

Desde tempos imemoriais que o pão é fabricado com ou sem fermento. Neste último caso, originalmente, o pão era feito pelos pastores, que, na sua vivência nómada, não guardavam fermento para o próximo pão. Em sentido oposto, o pão fermentado era o pão dos agricultores, que, na sua vida estável, vivendo em casas, podiam comer e armazenar o pão fermentado. Assim, o pão sem fermento, ou ázimo, foi também chamado de “pão da pressa”, o pão da Páscoa, devido à saída apressada do Egito (Ex 12, 8-11.15-20; 13, 3-10; 23, 5-8; Dt 17, 3-4). Daqui se conclui que a Páscoa era a festa do pão novo – sem qualquer sinal de fermento –, o início de um ano novo e, sobretudo, de uma vida nova, no verdadeiro sentido espiritual.

Pelo facto de trabalhar o interior da massa do pão, o fermento recebeu um sentido espiritual interessante, i.e., um sentido positivo e um outro negativo. O sentido positivo é claro: o fermento dá gosto ao pão e faz crescer a massa: “O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado” (Mt 13, 33; cf. Lc 13, 20-21). Mas este crescimento também pode ser negativo, no sentido de doutrina contrária ao evangelho. É o caso do “fermento dos fariseus e dos saduceus”, de que os discípulos se devem afastar (Lc 12, 1), assim como do “fermento de Herodes” (Mc 8, 15; Mt 16, 11-12; Gl 5, 9). Outro sentido negativo está relacionado com o pão da Páscoa (sem fermento), sentido esse que advém do facto de o fermento ser algo velho, pertencente ao ano anterior, pelo que era visto, no ritual da Páscoa, como tendo uma espécie de espírito mau, de morte, e, portanto, perigoso. Daí o cuidado de extirpar da casa de família todo e qualquer minúsculo bocado de pão com fermento, função que estava a cargo da mãe de família. S. Paulo fala deste fermento negativo no sentido espiritual, qualificando-o de “velho”, “malícia” e “corrupção”: “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, já que sois pães ázimos. Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade” (1Cor 5, 6-8).

 

Bibliog.: ALVES, Herculano, 50 Símbolos na Bíblia, 3.ª ed., Fátima, Difusora Bíblica, 2017; BOGAERT, Pierre-Maurice (coord.), Dictionnaire Encyclopédique de la Bible, Brépols, Centre Informatique et Bible, 1987; WINDISCH, “Zumê, zumoô, ’azumos”, in KITTEL, Gerard (coord.), Theological Dictionary of the Old Testament, vol. 2, Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing Company, 1993, pp. 902-906.

 

Herculano Alves

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