A conversão ao evangelho e a Jesus Cristo e a presença do Espírito Santo geram, como fruto imediato, a fraternidade cristã, que tem a sua expressão máxima na comunidade primitiva de Jerusalém. A partir da fé comum, os crentes acolhem a Palavra de Deus, que os convoca a unirem-se na fraternidade, numa comunhão de corações e na partilha de bens (At 2, 42-47; 4, 32-35). Esta experiência de fraternidade foi-se intensificando na vida dos monges, tendo no abade um “pai comum”, que coordenava e organizava a vida dos monges de forma justa e caritativa.
No séc. xiii, surgiram as ordens mendicantes, cujos frades (fratres, irmãos) revolucionam o conceito de vida religiosa, ao adaptá-la às novas circunstâncias sociais, que traziam novos desafios e exigiam novas respostas e novas formas de vida religiosa. Num mundo burguês e materializado, os frades demonstraram ser possível viver os valores do evangelho e, através da atividade apostólica (pregação e estilo de vida), atendiam fraternalmente os cristãos que viviam num abandono pastoral. Herdaram da tradição monástica a vida do leigo converso, que deixa de ser semiautónoma para se integrar na vida dos restantes frades como um auxiliar de serviços domésticos nas comunidades: ecónomos, cozinheiros, mensageiros e outros erviços, enquanto os frades presbíteros se ocupavam do estudo, pregação, ensino e ministérios eclesiásticos.
Mais tarde, no séc. xvi, surgem reformas que insistem numa maior austeridade e abnegação evangélicas, pretendendo, ao mesmo tempo, restabelecer a igualdade fraterna e renunciando às diferenças sociais que se haviam introduzido nos conventos. Com o passar do tempo, a vida fraterna foi-se transformando, com frequência, numa vida de observância organizada, na qual predominava o aspeto de coletividade sobre o comunitário fraternal, caindo-se muitas vezes num individualismo no seio do grupo, geralmente bastante numeroso e estruturado hierarquicamente. A partir do II Concílio do Vaticano, redescobriu-se a importância básica da fraternidade na vida religiosa como testemunho principal da vivência fraternal do evangelho.
Bibliog.: CANALS CASAS, Joan e APARÍCIO RODRÍGUEZ, Angel, Dicionário Teológico de Vida Consagrada, São Paulo, ed. Paulus, 1994; THOMPSON, Augustine, Irmãos Dominicanos, Braga, Apostolado da Oração, 2021.
António Jorge Ferreira Lopes