De origem alemã, a palavra gestalt significa aproximadamente “configuração”; a maneira como as coisas são colocadas juntas para formar um objeto inteiro; a forma de algo. Um ponto central da psicologia da Gestalt é o holismo, onde o todo é maior do que a soma das suas partes. O seu desenvolvimento teve como influência vários pensadores, como Immanuel Kant, Ernst Mach e Johann Wolfgang von Goethe.
É uma teoria amplamente focada na análise da mente e do comportamento humano como um todo. Ao tentar entender o mundo ao nosso redor, a psicologia da Gestalt sugere que não nos concentramos simplesmente em cada pequeno componente. Em vez disso, as nossas mentes tendem a perceber os objetos como parte de um todo maior e como elementos de sistemas mais complexos. Esta escola alemã desempenhou um papel importante no desenvolvimento moderno do estudo da sensação e perceção humana, as quais são fortemente influenciadas pelas nossas motivações e expectativas.
A génese da Gestalt, em parte, é uma resposta ao estruturalismo de Wilhelm Wundt, pelas mãos de Max Wertheimer. Sucintamente, enquanto os seguidores do estruturalismo estavam interessados em dividir as questões psicológicas até às suas menores partes possíveis, os psicólogos da Gestalt tinham como objetivo maior olhar para a totalidade da mente e do comportamento, considerados como um todo completo e não como componentes separados. Neste sentido, Wertheimer desenvolveu a psicologia da Gestalt depois de observar um fenómeno de ilusão de ótica (fenómeno phi), em que dois objetos estacionários parecem mover-se se forem mostrados, aparecendo e desaparecendo em rápida sucessão, dando a ideia de movimento onde não existe nenhum. Cumpre ressalvar que também outros psicólogos tiveram influência no campo da Gestalt: Wolfgang Köhler (1959), por exemplo, conectou a psicologia da Gestalt com as ciências naturais, argumentando que os fenómenos orgânicos são exemplos de holismo em ação; Kurt Koffka desempenhou um papel fundamental, ao levar os princípios da Gestalt para os Estados Unidos da América, sendo considerado, juntamente com Wertheimer e Köhler, um dos fundadores deste campo de estudo. Koffka aplicou ainda o conceito de Gestalt à psicologia infantil, argumentando que os bebés primeiro entendem as coisas de forma holística, antes de aprenderem a diferenciar as coisas em partes.
Para explicar o funcionamento da perceção da Gestalt, Wertheimer criou diversos princípios, dos quais destacaremos os seis mais importantes: i) Prägnanz, boa forma, simplicidade: este princípio fundamental afirma que percebemos naturalmente as coisas na sua forma ou organização mais simples; ii) Semelhança: sugere que agrupamos naturalmente itens semelhantes, com base em elementos como cor, tamanho ou orientação, formando um grupo; iii) Proximidade: revela que objetos próximos uns dos outros – no tempo e no espaço – tendem a ser percebidos como um grupo; iv) Continuidade: de acordo com este princípio, há uma tendência da perceção humana de seguir uma direção para conectar os elementos de modo que pareçam contínuos ou fluir numa direção específica; v) Preenchimento: existe uma tendência da perceção humana para completar as figuras incompletas, preenchendo lacunas; vi) Região comum: este princípio realça a tendência para agrupar objetos, se estes estiverem localizados na mesma área limitada.
A ideia de que o todo é diferente das suas partes influenciou a compreensão do cérebro e do comportamento social. A psicologia da Gestalt contribui, ainda na primeira metade do séc. xxi, para uma melhor compreensão sobre a maneira como o contexto, as ilusões visuais e o processamento de informação afetam a perceção.
Bibliog.: KOHLER, Wolfgang, “Gestalt psychology today”, American Psychologist, n.º 14, 1959, pp. 727-734; SCHULTZ, Duane e SCHULTZ, Sydney, A History of Modern Psychology, Wandsworth, Cengage Learning, 2011; WAGEMANS, Johan, Historical and Conceptual Background: Gestalt Theory, Oxford, Oxford University Press, 2014; Id. et al., “A Century of Gestalt Psychology in Visual Perception: I. Perceptual Grouping and Figure-Ground Organization”, Psychological Bulletin, n.º 138, 6, 2012, pp. 1172–1217; Id. et al., “A Century of Gestalt Psychology in Visual Perception: II. Conceptual and Theoretical Foundations”, Psychological Bulletin, n.º 138, 6, 2012, pp. 1218–1252.
Clara Margaça