A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

Glosa

O primeiro registo do termo “glosa” em português foi encontrado no Cancioneiro Geral de Garcia Resende (1536) e correspondia a uma forma de composição poética inerente a diferentes géneros líricos, distinguindo-se das formas associadas às cantigas de cunho popular, amplamente difundidas na Idade Média e comummente classificadas em três géneros (cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer). Nas composições poéticas de mote e glosa dos sécs. xv e xvi, as glosas têm como função o desenvolvimento do assunto apresentado no mote do poema. O vilancete e a cantiga são os principais géneros líricos de mote e glosa. No vilancete, o mote, em que se indica o tema da composição poética, é constituído por dois ou três versos e a glosa integra uma quadra e uma cauda de três versos. Na cantiga, o mote tem quatro ou cinco versos e a glosa tem, na maioria dos casos, o dobro dos versos apresentados no mote.  Nas Rimas de Luís de Camões, assim como noutras obras representativas do lirismo português do séc. xvi, são vários os exemplos de cantigas e vilancetes de mote e glosas. Embora a temática destas composições poéticas fosse predominantemente profana, foram igualmente produzidas composições de carácter religioso, como testemunha a seguinte glosa de um vilancete vicentino: “Adorai, desertos / e serras floridas, /o Deus dos secretos, / o Senhor das vidas. /Ribeiras crescidas, / louvai nas alturas / Deus das criaturas”. No séc. xvii, o vilancico barroco retoma a estrutura de mote e glosa do vilancete, tornando-se num género poético-musical de cariz religioso de grande êxito em toda Península Ibérica. Embora a sua génese seja popular e profana, o género ganhou contornos religiosos, tornando-se essencial nos rituais litúrgicos do ofício e da missa. Em Portugal, os vilancicos eram cantados nas igrejas e conventos nas principais festividades religiosas e hagiográficas.

 

Bibliog.: impressa: LOPES, Óscar e SARAIVA, António José, História da literatura portuguesa, 15.ª ed., Porto, Porto Editora, 1989; ROCHA, Andrée Crabbé, Garcia de Resende e o Cancioneiro Geral, 2.ª ed., Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987; SIMÕES, Manuel, “Glosa”, in Dicionário de literatura medieval galego e portuguesa, TAVANI, Giuseppe e LANCIANI, Giulia (org. e coord.), Lisboa, Caminho, 1993; digital: BESSA, Rui, “Vilancicos portugueses do século xiv ao xviii”, CIPEMRevista Música, Psicologia e Educação, n.º 5, 2003:  http://hdl.handle.net/10400.22/3140  (acedido a 10.09.2020).

 

Rute Rosa

Autor

Scroll to Top