Do grego ὕβρις, significa “excessiva violência” para com outrem, “desmesura”, “insolência”, “arrogância”, “orgulho”, “transgressão” (FRISK, 1970, 954; PASSOW, 1857, 2027). Em contexto ético, designa propriamente “licenciosidade”, sc., o oposto da moderação ou do comedimento (e.g., sophrosyne, Platão, Fedro, 237e-238a). Num contexto mais religioso, de que fazem parte elementos de natureza jurídica e “moral”, exprime a pretensão de ser mais do que efetivamente se é, o desconhecimento dos próprios limites e do lugar do ser humano como radicalmente aquém dos deuses (SNELL, 1955, 245), mas também uma qualquer ação que vai contra a ordem das coisas – “la violence brutale, qui viole les règles” (CHANTRAINE, 1977, IV-1, 1150) – e que implica punição (e.g., Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, 238 ss.). O termo “hybris” surge, assim, associado à ideia de uma blasfémia ou ofensa (em particular, aos deuses) que reclama algum tipo de consequência negativa ou castigo divino, nemesis (NILSON, 1955, 735).
Bibliog.: CAIRNS, D., “Hybris, dishonour and thinking big”, Journal of Hellenic Studies, n.º 116, 1996, pp. 1-32; CHANTRAINE, P., Dictionnaire Étymologique de la Langue Grecque, vol. iv-1: Histoire des Mots, Paris, Éditions Klincksieck, 1977; DODDS, E. R., The Greeks and the Irrational, Berkeley/Los Angeles/London, University of California Press, 1951; FISHER, N. R. E., Hybris. A Study in the Values of Honour and Shame in Ancient Greece, Warminster, Aris & Phillips, 1992; FRISK, Hjalmar, Griechisches Etymologisches Wörterbuch, vol. ii, Heidelberg, Carl Winter, 1970; McDOWELL, D., “‘Hybris’ in Athens”, Greece & Rome, n.º 23, 1976, pp. 14-31; NIKOLAEV, Alexander S., “Die etymologie von altgriechischem ὕβρις”, Glotta, n.º 80, vol. 1/4, 2004, pp. 211-23 ; NILSSON, Martin P., Geschichte der Griechischen Religion, vol. 1, München, C. H. Beck, 1955; PASSOW, Franz, Handwörterbuch der Griechischen Sprache, t. ii, vol. 2, Leipzig, Vogel, 1857; SNELL, Bruno, Die Entdeckung des Geistes: Studien zur Entstehung des europäischen Denkens bei den Griechen, Hamburg, Claassen, 1955; STAFFORD, E. J., “Nemesis, hybris and violence”, in BERTRAND, J.-M. (ed.), La Violence dans les Mondes Grec et Romain: Actes du Colloque International (Paris, 2-4 Mai 2002), Paris, Publications de la Sorbonne, 2005, pp. 195-212.
Samuel Oliveira