A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

Marxismo

O entendimento da História, da economia, da política e da revolução que Karl Marx desenvolveu, e sobre o qual se firma nos seus escritos e na sua ação, é indissociável da conceção ontológica materialista e dialética que lhe pulsa na raiz. A grande questão fundamental radica num conceito (dialético) de materialismo. No materialismo de Karl Marx, o ser é sempre um processo em devir, no âmbito do qual as coisas e as situações, as representações e os comportamentos, a positividade e a sua transformação prática, vão, numa figura plástica mas determinada, ganhando contornos e adquirindo uma base material. Enquanto materialidade, ser e possibilidade fundam a ontologia marxista. A compreensão do acontecer das realidades no seu devir, tal como a intervenção prática humana, nos processos históricos da sua feitura, funda-se naquela materialidade dialética do ser. Para esta compreensão de um complexo de processos que fazem o ser, Karl Marx acolheu traços categoriais que Hegel elaborou no conceito dialético de essência. A essência é, pois, uma processualidade dinâmica. É que o conceito de ser como possibilidade, estendendo-se a toda a matéria numa dinâmica processual, encontrando-se o “possível” em gérmen em toda a realidade, faz com que se considere uma nova chave para a análise do presente histórico e para uma nova antropologia de pendor dialético. Se o presente é a possibilidade, e se todo o real é virtualidade latente, em processos de tendências e contradições, em virtude da dynamis inerente à História, por consequência, emerge uma poderosa ideia de futuro que dará corpo a uma nova hermenêutica da esperança. Desta compreensão da totalidade do real enquanto abertura à novidade, capaz de futuro, resulta uma antropologia que exalta a responsabilidade criativa do humano. E desta nova interpretação resultaram questionamentos radicais aos fundamentos metafísicos da filosofia e da teologia prevalecentes até então. Emergiram prioridades ontológicas e axiológicas de uma nova civilização, de onde resultaram novas respostas de reflexão e reinterpretações geradoras de algumas das mais fundas transformações da História contemporânea.

 

Bibliog.: BARATA-MOURA, José, É o Marxismo Científico, Lisboa, Avante, 2010; LÉNINE, V. I., Karl Marx e o Desenvolvimento Histórico do Marxismo, Lisboa, Avante, 1975; MASSET, Pierre, Les 50 Mots-Clés du Marxisme, Toulouse, Editions Edouard Privat, 1973; TIBLE, Jean, Marx Selvagem, São Paulo, Autonomia Literária, 2018.

 

Edgar Silva

 

Autor

Scroll to Top