Médium, do latim, “meio”, “intermediário”. Desta forma, o médium representa o meio através do qual o divino se expressa. Geralmente, o termo é utilizado para identificar o indivíduo que é veículo de tal procedimento.
O médium é, e sempre foi visto, como aquele que estabelece uma ponte com o sagrado, pelo que os grandes profetas da História, como Jesus, Abraão, Isaías, entre outros, são, portanto, considerados médiuns, tendo a capacidade de interpretar as mensagens das esferas espirituais. Assim, a mediunidade é uma atividade sagrada e vista por muitas religiões como peça essencial para a ocorrência dos rituais. Um centro espírita de linha kardecista, e.g., não pode realizar os seus trabalhos sem a presença, pelo menos, de um médium.
No que respeita ao espiritismo, é justamente nesta área que o termo “médium” ganha maior visibilidade e uso. Os antigos sacerdotes gregos ou egípcios, os augúrios, que dedicavam a vida aos estudos de um oráculo, caracterizavam-se pelas suas habilidades como médiuns, porém, a partir da Idade Média, o termo passou a ser usado apenas para definir aqueles que não faziam uso de nenhuma ferramenta adivinhatória além do corpo ou, ainda, que tivessem uma ligação ao paganismo. Posteriormente, com o surgimento de outras religiões que mantiveram os ritos de incorporação, mas sem ligação exclusiva ao cristianismo, como a umbanda, o candomblé e o voodoo, o termo “médium” voltou a expandir-se e a englobar praticantes não oriundos do espiritismo de Kardec. Entretanto, ainda se percebe nestes espaços religiosos uma preferência por outros termos para designar a mesma função, como “cavalo”, na umbanda e no candomblé, provavelmente para evitar confusões e preservar as tradições culturais ligadas a cada um deles.
Não existe um formato padrão para que ocorra, via médium, o contacto entre os planos extramateriais e os seres humanos. Alguns comparam, inclusive, o transe mediúnico com a possessão, já que em muitos casos o médium fica inconsciente. Ao mesmo tempo, este é um termo frequentemente pejorativo e com origem em pensadores judaico-cristãos que erroneamente prejulgavam a cultura alheia pela sua visão de mundo. A mediunidade é, portanto, a canalização realizada pelo médium, que pode ser amparada pela intuição, ou sexto sentido, i.e., a capacidade de perceção dos planos espirituais.
Segundo o espiritismo de Allan Kardec, a mediunidade é uma capacidade natural de todos seres humanos, e espíritos, que alterna segundo a sensibilidade de cada um. Conforme o que relata na sua obra mais conhecida sobre este tema, O Livro dos Espíritos, as habilidades mediúnicas sofrem alterações de acordo com os pensamentos, a alimentação e os comportamentos de cada médium. Kardec descreve ser comum entre os indivíduos que despertam a mediunidade, ou quando esta se encontra em desequilíbrio, a ocorrência de dores de cabeça, desconforto nos olhos, insónia, tonturas, o escutar de vozes, tremores nos membros, entre outros. Um médium também pode apresentar diferentes formatos de manifestação, expressando a linguagem dos espíritos, e deidades, através da escrita, da dança, da fala e similares. O transe costuma preceder a incorporação ou a exposição da comunicação, podendo ser induzido por meio de sons, aromas, palavras ou, simplesmente, por meditação e concentração do médium.
Publicações mais recentes sobre mediunidade estabelecem uma associação entre o tema e alguns quadros psiquiátricos, defendendo que alguns problemas mentais seriam fruto de uma mediunidade mal trabalhada ou mal desenvolvida. Paralelamente, psicólogos e psiquiatras, na sua esmagadora maioria, discordam de tais posições.
Bibliog.: KARDEC, Allan, Le Livre des Esprits, Paris, E. Dentu, Libraire, 1857; SIGNATES, Luiz, “A mediunidade, da profecia ao rito: A transformação da espiritualidade no espiritismo kardecista”, Caminhos – Revista de Ciências da Religião, vol. 17, n.º 1, 2019, pp. 123-141.
Natasha Martins