O neoplatonismo foi uma escola filosófica que nasceu principalmente da interpretação metafísica da obra Parménides, de Platão (c. 428/427 a.C.-c. 347 a.C.), tendo Plotino (205-270) sido um dos seus principais difusores. O termo “neoplatonismo” surgiu no séc. xviii, com o helenista Thomas Taylor (1758-1835).
Os escritos de Plotino, coletados e editados pelo seu discípulo Porfírio (c. 232-c. 305), refletem o seu esforço na defesa dos ensinamentos de Platão contra o materialismo dos estoicos e a sua visão limitada sobre o devir da alma humana. Para Plotino, Platão ensinou doutrinas místicas que divinizavam a alma, elevando-a até ao amor inefável do Um, do supremo bem. O grande contributo de Plotino, e dos neoplatónicos que lhe sucederam, foi enfatizar a capacidade da alma em unir-se ao Uno e o meio para se lá chegar. Por conseguinte, no entender da grande maioria dos neoplatónicos, esta mística de Platão já fazia parte dos seus preceitos, embora de forma velada e apenas compreendida pelos filósofos mais atentos. Os seguidores desta visão insistiam que a alma humana deveria ajustar-se com a ordem do cosmos visível e que toda a criação é naturalmente boa, contrariando a perceção dos gnósticos, que viam no mundo observável a obra de um demiurgo mau e corrompido.
Na aceção neoplatónica, a alma é considerada imortal, porém, quando ela incarna, separa-se da sua divindade e fica sujeita à mortalidade. A alma só pode reconquistar o seu lugar na hierarquia celeste com o auxílio dos deuses e através da realização de determinados rituais, cerimónias, orações e cânticos. Os neoplatónicos acreditavam poder despertar a presença da alma divina e imortal no interior do Homem através do uso de elementos que participavam da natureza celeste, tais como pedras, plantas, animais e aromas, entre outros. Deste modo, o neoplatonismo não é apenas uma metafísica, mas sobretudo uma prática teúrgica com o intuito de restaurar o contacto entre o Homem e o divino, conceito desenvolvido pelos sucessores de Plotino nas figuras de Porfírio de Tiro (234-310) e, principalmente, nos que vieram depois de Jâmblico (c. 250-c. 330), como é o caso de Proclo (412-485) e Damáscio (c. 458-c. 538), considerado o último dos neoplatónicos.
O sucesso da sobrevivência e revivalismo desta corrente de pensamento ao longo da História explica-se, em grande parte, por ser uma filosofia espiritual que entrava em concordância com a essência do cristianismo e pelo facto de as obras de Platão terem sido revisitadas por intelectuais influentes, como S.to Agostinho (354-430), Thierry de Chartres (?-c. 1150) e Marsílio Ficino (1433-1499), para apenas citar alguns.
Bibliog.: HANKINS, James, Plato in the Italian Renaissance, Leiden, E. J. Brill, 1991; JÂMBLICO, Theurgia or The Egyptian Mysteries by Iamblichus Reply of Abammon, the Teacher to The Letter of Porphyry to Anebo together with Solutions of the Questions Therein Contained, trad. WILDER, Alexander, New York, The Metaphysical Publishing, 1911; KLIBANSKY, Raymond, The Continuity of the Platonic Tradition during the Middle Ages: Plato’s Parmenides in the Middle Ages and the Renaissance, Munique, Kraus, 1981; PEARSON, Birger, “Theurgic tendencies in gnosticism and Iamblichus: Conception of theurgy”, Studies in Neoplatonism: Ancient and Modern, vol. 6, 1992; PLOTINO, Enneads, Text and Translation in 7 vols, trad. ARMSTRONG, A. H., Cambridge, Loeb Classical Library/Harvard University Press, 1966-1988; SHAW, Gregory, Theurgy and the Soul: The Neoplatonism of Iamblichus, University Park, Pennsylvania State Press, 1995.
Filipe Alberto da Silva