Obedecer (do latim ob-audire, escutar) é o ato ou virtude que predispõe a realizar o mandato da autoridade. A obediência da fé (Rm 1, 5; 16, 2) é escuta atenta e adesão livre do homem a Deus que revela. Implica uma atitude ativa, que põe em jogo a inteligência e a vontade livre para aderir à vontade divina com todas as forças e capacidades, e é manifestação de caridade (1Jo 5, 3). Na Sagrada Escritura, Abraão e a Virgem Maria são modelos de obediência (CIC, 143-144). Cristo foi obediente ao Pai até à morte e à morte de cruz (Fl 2, 6-8), em contraposição à desobediência de Adão (Rm 5, 19), e aí radica a própria essência da Redenção (LG, 3). A dimensão teologal da obediência assenta na ordem divina, pois a autoridade tem o seu fundamento na natureza humana e emana de Deus nos diversos âmbitos da vida social (Rm 13, 1-2; CIC, 1899) O mandato não deve opor-se à vontade divina, expressa na lei moral e gravada no interior da consciência, pois há que obedecer antes a Deus do que aos homens (At 5, 29; CIC 1902). A lei divina não se opõe à liberdade e à responsabilidade pessoal, pois a realização dos planos divinos – nos quais radica a plena realização da pessoa – pede uma obediência sobrenatural e simultaneamente livre, inteligente, reflexiva, madura e responsável. É uma temática comum na Tradição e no Magistério. Tomás de Aquino estuda-a enquanto virtude e enquanto conselho evangélico característico da vida consagrada (S. Th. II-II, q.104, q.186).
Bibliog.: AGOSTINHO, S.to, Enarrationes in Psalmos 70, I, 2, PL 36, 875; CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIC), 1993; CONC. VATICANO II, Const. Lumen Gentium, 3; LEÃO XIII , Enc. Immortale Dei, 1-XI-1885; TILLARD, Jean-Marie R., “Obéissance”, in Dictionnaire de Spiritualité Ascétique et Mystique, t. xi, Paris, Beauchesne, 1982, cols. 535-563; RIO, Pilar, “Obediencia”, in Diccionario de S. Josemaría Escrivá de Balaguer, Burgos, Monte Carmelo, 2013, pp. 893-902; THOMAS AQUINAS, Summa Theologiae, II-II, q. 104, 186.
Maria Helena da Guerra Pratas
