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Ockhamismo

O ockhamismo é a corrente filosófica e teológica que tem origem nas obras e no pensamento do franciscano inglês Guilherme de Ockham (n. 1284 c.-m. 1347 c.) e dos seus discípulos e/ou seguidores (tais como Adão Woodham, Roberto Holcot, Gregório de Rimini, João Buridano, Nicolau de Autrécourt, João de Mirecourt, Pedro de Ailly, Marsílio de Inghem, Gabriel Biel e tantos outros). Em linhas gerais, trata-se de um amplo movimento universitário (oxoniense e parisiense) de rutura que, questionando os pressupostos e corolários escolásticos, ainda no séc. xiv, já antecipa os primeiros lampejos da modernidade. De facto, na querela entre reales e nominales, aqueles representam a via antiqua (i.e. tomistas e escotistas) e estes, a via moderna ou via modernorum (já que se autodenominavam moderni). Com efeito, sendo o ockhamismo a mais paradigmática expressão dessa escola moderna, o célebre epíteto académico atribuído a Ockham – s.c. Venerabilis Inceptor – passou a ser entendido como venerabilis inceptor viae modernae. Grosso modo, o ockhamismo pode ser identificado com o nominalismo e os seus desdobramentos diretos, embora não se deva reduzi-lo unicamente a isso; no entanto, é claramente em virtude dessa correlação entre ockhamismo e nominalismo que Ockham também recebeu o qualificativo de Princeps Nominalium. Não obstante, é um danoso equívoco considerar que o pensamento de Ockham tenha sido integralmente assumido pelos adeptos do ockhamismo, ou que todas as doutrinas ockhamistas sejam efetivamente ockhamianas. De facto, uma coisa é Ockham, outra o ockhamismo; uma coisa é o pensamento ockhamiano (aquele que se recolhe das obras escritas pelo Venerabilis Inceptor), outra coisa é a escola ockhamista (que apenas tem a sua génese nas ideias estabelecidas por Ockham, mas que foi autonomamente desenvolvida pelos que se inspiraram nos princípios ockhamianos). Além do mais, o movimento ockhamista não pode ser caracterizado por um conjunto homogéneo de teses, tendo em consideração a diversidade de autores e de teorias que, em alguma medida, seguiram os rastos ockhamianos (i.e. as pegadas deixadas pelo Venerável Iniciador). Deste modo, seria mais adequado falar em ockhamismos do que, propriamente, em ockhamismo.

 

Bibliog.: COURTENAY, William, Ockham and Ockhamism: Studies in the Dissemination and Impact of his Thought, Leiden e Boston, Brill, 2008; GILSON, Etienne, “O movimento ockhamista”, in A Filosofia da Idade Média, trad. de Eduardo Brandão, São Paulo, Martins Fontes, 1995, pp. 816-854.

 

William Saraiva Borges

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