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Oseias

O profeta Oseias atuou no reino do Norte, Israel, na segunda metade do séc. viii a.C., ainda no reinado de Jeroboão II e no período subsequente. Foi uma época de grande instabilidade política, provocada pela ameaça Assíria e por uma série de rebeliões internas, na tentativa de procurar alianças militares com outros povos para evitar a ocupação. Estes acontecimentos levaram ao desaparecimento de Israel em 722 a.C. A situação religiosa era igualmente grave: corrupção, infidelidades e culto idolátrico a divindades cananeias. Neste cenário, Oseias casa-se com uma prostituta de quem tem três filhos e a quem põe nomes simbólicos (Os 1, 2-9; 3, 1-5). O matrimónio do profeta converter-se-á num dos símbolos privilegiados para interpretar as relações de Deus como esposo com o povo infiel como esposa. No processo movido por Deus contra o seu povo (Os 2, 4-25), em que Deus é, ao mesmo tempo, denunciante, testemunha, vítima e juiz, a acusação principal é que Israel é infiel ao Senhor e se prostitui com os “seus amantes”; vai atrás de Baal, uma das principais divindades cananeias, e dos seus pares (Os 2, 15). O problema é que Israel pensa que eram estas divindades que lhe davam o pão, a água, a lã, o linho, o azeite e a bebida (Os 2, 7), e não reconhecia que era o Senhor que lhe dava a vida, fornecendo-lhe o trigo, o vinho, o azeite, a prata e o ouro (Os 2, 10). Um dos grandes problemas do povo é não reconhecer que é o Senhor quem cuida dele e recusa-se a converter-se porque está obstinado na sua apostasia (Os 11, 3-7): “quanto mais os chamei, mais eles se afastavam de mim” (Os 11, 2). E os sacerdotes, que deviam cuidar da instrução do povo, aproveitam-se dele e exploram-no (Os 4, 6-19; 5, 1-7), porquanto o Senhor “quer a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos” (Os 6, 6). Conhecer Deus é olhar para a história e descobrir os elementos fundadores da fé de Israel, o que Deus fez e continua a fazer para que o povo tenha vida. Algumas vezes o profeta ameaça com “voltar para o Egipto” (Os 8, 13; 11, 5), o que significa voltar ao ponto zero, àquele momento em que Israel ainda não existia, pois se Israel é um povo é porque o Senhor o amou e o tirou de lá (Os 2, 17; 11, 1; 12, 10). As críticas do profeta, tanto às autoridades como ao povo, têm como finalidade mostrar que a procura de soluções fáceis acarreta injustiças e guerras com consequências muito nefastas (Os 5, 8-14) e que a única atitude do povo para salvar a situação é confessar-se culpado e procurar Deus, porque só Ele pode curar (Os 5, 15; 6, 3). Apesar de a resposta do povo não corresponder ao amor que Deus tem por ele, o Senhor não desiste de continuar a estabelecer laços que evitem a destruição total. Ele escolheu Israel por amor e continua a amá-lo como um pai ama o seu filho, a segurá-lo com ternura como se acaricia uma criança ao peito e a dar-lhe a vida (Os 11, 1-11). As imagens do esposo e da esposa, do pai e do filho, e tantas outras, usadas por Oseias para sublinhar a força do amor de Deus e a sua magnanimidade, não permitem, porém, confundi-lo com o homem: “sou Deus e não um homem, sou Santo no meio de ti, e não me deixo levar pela ira” (Os 11, 9).

 

Bibliog.: ABREGO DE LACY, José Maria, Los Libros Proféticos, Estella-Navarra, Verbo Divino, 1993, pp. 71-96; ALONSO SCKÖKEL, Luis e SICRE DÍAS, José Luis, Profetas. Comentário, vol. ii, Madrid, Cristiandad, 1980, pp. 859-921; ASURMENDI, Jésus, Amós e Oseias, Lisboa, Difusora Bíblica, 1994; JEREMIAS, J., Osea. Traduzione e comento, Brescia, Paideia, 2000; LOURENÇO, João Duarte, História e Profecia. O Mundo dos Profetas Bíblicos, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2007, pp. 200-215; PALOS, José Morais, “Oseias: Infidelidade à Aliança”, Bíblica – Série científica, n.º 19, 2010, pp. 123-146; SICRE DÍAS, José Luis, Introducción al Profetismo Bíblico, Estella-Navarra, Verbo Divino, 2011, pp. 201-212; SIMIAN-YOFRE, Horacio, El Desierto de los Dioses. Teología e Historia en el Libro de Oseas, Cordoba, El Almendro, 1993; WOLFF, Hans Walter, Hosea, Philadelphia, Fortress Press, 1974.

 

José Morais Palos

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