A pedra (em hebraico, ’ében, etc.; em grego, lithos e petra, sobretudo), pela sua dureza, foi sempre um material próprio para a construção de edifícios e de outras obras arquitetónicas, tendo também sido empregada nas artes e mesmo como material para fabricar imagens de deuses e deusas. Esta crença deve-se, talvez, à existência de enormes estátuas de pedra, cuja origem se desconhecia. Por isso, a Bíblia fala da pedra 341 vezes, com vocabulário diverso, também como símbolo de perenidade e mesmo de eternidade. Esse parece ser o motivo pelo qual as Tábuas da Lei do Sinai estão escritas nas duas pedras, como acontece também com o Código de Hammurabi e outros códigos de leis antigos. A pedra, a rocha, é ainda símbolo de segurança no mar encapelado desta vida (Sl 28, 1).
Hoje sabemos que as pedras que os antigos julgavam caídas do céu se tratam de meteoritos, tendo sido consideradas sagradas por virem de cima, do céu. A Kaaba de Meca é disto o exemplo mais claro, por guardar um meteorito. Um exemplo bíblico muito conhecido é a pedra sobre a qual Jacob teve o sonho da escada que unia o céu e a terra, exclamando: “’O Senhor está realmente neste lugar e eu não o sabia!’ Atemorizado, acrescentou: ‘Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu’. No dia seguinte, de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela. Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz” (Gn 28, 16b-19).
O santuário de Guilgal, perto do rio Jordão, era constituído sobretudo pelas 12 pedras levantadas, como monumento que recordava, nesse lugar, a entrada das 12 tribos na Terra Prometida (Js 4, 19-20; 5, 9-10, etc.). Mais tarde, os profetas verberaram o culto destas e de outras pedras elevadas como monumentos, como é o caso das estelas, levantadas para recordar algum acontecimento divino (Os 4, 15; 9, 15; 12, 12, etc.). Um monte de pedras tinha a mesma função, embora fosse um monumento mais tosco (Gn 31,44-54; Js 24,25-27). Assim, as pedras caídas do céu eram interpretadas como comunicação de Deus com os seres humanos, que lhe respondiam erigindo outras pedras em direção ao céu. Parece ser esta a origem dos menires e cromeleques. Era também sobre pedras que o povo construía os seus altares, havendo um texto antigo da Bíblia que manda que estas pedras não sejam trabalhadas pelo Homem, para que Deus seja adorado com os materiais que Ele próprio criou (Ex 20, 25).
As expressões “pedra-fundamento”, “pedra angular” e “primeira pedra” estão relacionadas com o início de uma construção, que, já nos tempos antigos, era considerada um momento histórico, a ponto de os Egípcios, e.g., colocarem nessas pedras bênçãos para a futura construção. Cerimónias semelhantes ainda hoje se fazem, em edifícios profanos ou sagrados, com muita pompa. O próprio Jesus, citando o Salmo 118, 22-23, diz ser Ele próprio a “pedra angular que os construtores rejeitaram” (Mc 12, 10-11; ver At 4, 11). Por seu lado, o autor da Primeira Epístola de São Pedro afirma que os cristãos devem ser as “pedras vivas da construção de um edifício espiritual”, que é a Igreja, da qual Cristo é “a pedra angular, escolhida, preciosa; quem crer nela não será confundido” (1Pe 2, 4-6). A pedra é ainda símbolo do que é morto, sem vida, como é o caso dos deuses pagãos, que têm boca e não falam… (Sl 115, 5-7; 135, 15-18, etc.), sendo também sinónimo de um coração duro (Ez 36, 26; Jb 41, 16).
As pedras preciosas foram sempre símbolo de riqueza, mas também de algo relacionado com o divino, com a condição celeste e espiritual. Assim, o sumo sacerdote, no exercício do ministério do Templo de Jerusalém, vestia um peitoral guarnecido de pedras preciosas: “Guarnecê-lo-ás de quatro filas de pedrarias. Na primeira fila colocarás um rubi, um topázio e uma esmeralda; na segunda fila, um jaspe, uma safira e um diamante; na terceira fila, uma opala, uma ágata e uma ametista; na quarta fila, um crisólito, um ónix e um jaspe. Todas estas pedras serão cravadas em ouro, em número de doze, correspondendo aos nomes dos filhos de Israel; em cada uma delas será gravado o nome de cada uma das doze tribos, como se gravam nos sinetes” (Ex 28, 17-21). No Apocalipse, a nova Jerusalém estava cheia de pedras precisas, e, quando descia do céu, “tinha o resplendor da glória de Deus: brilhava como pedra preciosa, como pedra de jaspe cristalino” (Ap 21, 11).
Noutro lugar fala-se da “pedra branca”, na qual está escrito um nome: “Ao que sair vencedor, dar-lhe-ei a comer do maná escondido e dar-lhe-ei também uma pedra branca; na pedra branca estará gravado um novo nome que ninguém conhece, a não ser o que a recebe” (Ap 2, 17). Se gravar o nome numa pedra é sinal de perpetuidade, o facto de a pedra ser branca tem a ver com o céu e com a divindade. No Apocalipse, e no cristianismo em geral, seria uma espécie de bilhete de entrada na novidade da condição cristã e, sobretudo, uma aliança entre Aquele que dá o novo nome e o cristão, que o recebe (ver Is 8, 1-4; 62, 2).
Bibliog.: ALVES, Herculano, “Pedra”, in 50 Símbolos na Bíblia, Fátima, Difusora Bíblica, Fátima, 2017, pp. 359-370; JEREMIAS, J., “Lithos, Lithinos”, in KITTEL, Gerhard (ed.), Theological Dictionary of the New Testament, vol. 4, Grand Michigan, WM. B. Eerdmans Publishing Company, 1993, pp. 268-280; KAPELRUD, Arvid S., “’Ébhen”, in BOTTERWECK, G. Johannes et al. (eds.), Theological Dictionary of the Old Testament, vol. 1, Grand Rapids, WM. B. Eerdmans Publishing Company, 1993, pp. 48-51.
Herculano Alves