O tempo da Quaresma inicia-se com a Quarta-feira de Cinzas e termina na tarde de Quinta-feira Santa, com a celebração da missa da Ceia do Senhor, e conta com seis domingos, o último dos quais é o Domingo de Ramos ou da Paixão do Senhor.
Quanto à origem da Quaresma, não nos é dado saber com certeza onde, por meio de quem e como surgiu este tempo de preparação para a Páscoa, sobretudo em Roma. Sabemos apenas que ela se foi formando progressivamente. Uma praxe preparatória para a Páscoa, incluindo o jejum, tinha começado a afirmar-se no final do séc. ii. Porém, as primeiras alusões diretas a um período pré-pascal encontram-se no Oriente, no princípio do séc. iv, e no Ocidente, no final do mesmo século. É a partir deste final do séc. iv que a Quaresma passa a ter a duração dos “quarenta dias”, considerados à luz do simbolismo bíblico que dá a esse tempo um valor salvífico e redentor. Para o desenvolvimento da Quaresma contribuiu a disciplina penitencial para a reconciliação dos pecadores, que ocorria na manhã de Quinta-feira Santa, e as exigências sempre crescentes do catecumenado com a preparação imediata para o batismo, celebrado na noite de Páscoa, na Vigília pascal.
Quanto ao desenvolvimento temático deste tempo, os textos dos evangelhos dos domingos da Quaresma são a melhor referência para a espiritualidade do mesmo. No primeiro domingo, a Igreja é convidada a escutar o evangelho das tentações de Jesus no deserto; no segundo domingo, é proclamado o evangelho da Transfiguração, isto é, marca-se o início da caminhada quaresmal e aponta-se desde logo para o seu fim, o seu coroamento pascal. Nos três domingos seguintes, a Quaresma apresenta três itinerários distintos. No ano A, um itinerário batismal, com os três textos do Evangelho de São João que serviam de base à catequese preparatória do batismo dos catecúmenos, sobre a nova vida dada pelo Senhor: Jesus com a Samaritana (Jo 4, 5-42), a cura do cego de nascença (Jo 9, 1-41) e a ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-45). No ano B, um itinerário cristológico, com três textos de São João sobre o mistério de Cristo, a sua missão de sofrimento e de amor: Jesus, novo templo (Jo 2, 13-25), o diálogo com Nicodemos (Jo 3, 14-21) e a parábola do grão de trigo (Jo 12, 20-33). No ano C, um itinerário penitencial, com dois textos do Evangelho de São Lucas e um de São João, sobre a misericórdia do Senhor para com os necessitados e pecadores: a parábola da figueira estéril (Lc 13, 1-9), a parábola do filho pródigo (Lc 15, 1-3; 11-32) e a passagem da mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Com o Domingo de Ramos, no qual se faz memória da entrada triunfante de Cristo em Jerusalém e da Paixão de Cristo, entra-se na Semana Santa.
Bibliog.: AUGÉ, Matias, “L’anno litúrgico nel rito romano”, in CHUPUNGCO, Ansgar J. (dir.), Scientia Liturgica, vol. 5, Casale Monferrato, Piemme, 1998, pp. 228-230; BERGAMINI, A., “Quaresma”, in SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. (dirs.), Dicionário de Liturgia, São Paulo, Paulinas, 1992, pp. 983-985; NOCENT, Adrien, “A quaresma”, in AUGÉ, Matias et al. (coord.), Anámnesis 5: O Ano Litúrgico: História, Teologia, Celebração, São Paulo, Paulinas, 1991, pp. 151-177; SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA, O Tempo da Quaresma, Fátima, Secretariado Nacional de Liturgia, 2011.
Bernardino Costa