De origem grega (kérygma), o termo “querigma” significa “proclamação”, “anúncio”. Pertence particularmente à linguagem missionária e sintetiza a mensagem do evangelho (cf. Gl 2, 2; Cl 1, 23; 1Ts 2, 9).
No campo exegético, a partir de meados do séc. xx, foi usado para identificar o conteúdo fundamental da fé cristã, a pregação inicial e, na crítica das formas clássica, as unidades orais anteriores ao texto neotestamentário. Segundo os dados do Novo Testamento, o querigma é, originalmente, o anúncio do agir salvífico de Deus realizado por Jesus Cristo, na força do Espírito Santo (cf. At 10, 37-41; 12, 23-32; Rm 1, 1-4; 1Cor 15, 1-8), um anúncio que ocorre durante a vida terrena de Jesus, pelo próprio Jesus (cf. Mc 1, 14.38-39), pelos seus discípulos (cf. Mc 3, 14; 6, 12), por outros seguidores seus (cf. Mc 1, 45; 5, 20; 7, 36) e, já antes, por João Batista (cf. Mc 1, 4.7). Resume-se na afirmação da definitividade da vinda do Reino de Deus, com o consequente apelo à conversão (cf. Mc 1, 15).
Dirigido primeiramente a Israel (cf. Mt 10, 5-6; 13, 46), abre-se a toda a humanidade (cf. Mc 13, 10; 14, 9; 16, 15; At 1, 8; Gl 2, 2; Cl 1, 23) e tem por finalidade interpelar o ser humano, abrindo-lhe a íntima comunhão com Deus. O anúncio implica a fé, a abertura à palavra do evangelho, e leva a um discernimento entre os que creem e os que não creem. Este agir continua através do anúncio da Igreja (cf. Mt 28, 19-20; At 1, 8), que, transmitindo o querigma inicial (cf. Mc 1, 38; 3, 14; Rm 10, 14-15; 1Cor 15, 11), mantém a sua identidade em todos os tempos e culturas. Por isso, já em época apostólica começaram a ser cunhadas fórmulas de fé (cf. 1Cor 15, 3-8). Assim, a Igreja mantém-se em continuidade com as suas origens.
O querigma não se reduz a palavras. Através delas, atualiza-se a ação de Deus: é um acontecimento, é palavra de poder, que realiza o que anuncia naqueles que a recebem. É Cristo vivo, que age e anuncia através dos seus discípulos em todas as gerações. Assim, é anúncio do evangelho e do próprio Cristo (cf. At 8, 5; 9, 20; 1Cor 1, 23; 2Cor 1, 19; 4, 5; 2Tm 4, 17), e inclui as ações eclesiais salvíficas, particularmente os sacramentos.
Bibliog.: MARA, M. G., “Kerygma”, in DI BERARDINO, A. (dir.), Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, vol. f-o, Genova/Milano, Marietti, 2007, cols. 2719-2720; MCDONALD, J. I. H., Kerygma and Didache: The Articulation and the Structure of the Earliest Christian Message, Cambridge, University Press, 1980; RATZINGER, J., Dogma e Anunciação, São Paulo, Loyola, 1977, pp. 11-31; THEOBALD, M. e FORTE, B., “Kerygma. I. Biblisch-theologisch. II. Systematisch-theologisch”, in KASPER, W. (dir.), Lexikon für Theologie und Kirche, vol. iv, Freiburg/Basel/Rom/Wien, Herder, 1995, cols. 1406-1409.
Maria de Lourdes Corrêa Lima