O sentido etimológico do termo “reclusão”, do latim reclusio onis, é o de afastamento voluntário do convívio social, de privação da liberdade ou mesmo de isolamento social por uma imposição legal.
Para alguns santos da Igreja, como S.ta Teresa de Ávila, o período de reclusão equivale a um período de combate para vencer as forças do mal. Nesse sentido, os Padres do Deserto referiam-se à reclusão como um tempo de libertação para o tempo de oração. A disciplina da reclusão corresponde, assim, à opção de uma pessoa se isolar temporariamente, separando-se das atividades quotidianas para se dedicar ao exercício do silêncio e da oração para um encontro mais próximo e profundo com Deus. Portanto, na espiritualidade cristã, o conceito de reclusão refere-se à realidade de ser conduzido pelo Espírito Santo ao silêncio na oração.
A reclusão enquanto afastamento das influências das circunstâncias normais do quotidiano, com vista a uma maior comunhão com Deus, tem como fonte de inspiração algumas atitudes que o próprio Jesus adotou durante o seu ministério. Também Ele se distanciava daqueles que pastoreavam para ir até ao deserto ou até à montanha, para ser conduzido pelo Espírito e dedicar-se ao encontro com o Pai. Vários textos bíblicos relatam que Jesus tinha esta prática de se afastar de todos para se dedicar exclusivamente à oração (cf. Mt 4, 1-11; Mc 1, 35; 6, 46; 14, 23; Lc 4, 1-2; 6, 12-13; 9, 18-22; 22, 31-32). No sentido bíblico, a reclusão está intimamente ligada ao silêncio e à oração enquanto necessidade do próprio Jesus, sendo que o tempo de reclusão lhe foi essencial para se dedicar por completo à sua missão de enviado. Deste modo, a reclusão é um tempo dedicado à comunhão com Deus, é permitir-se ouvir a voz do Espírito para se ter mais clareza e discernimento para uma dedicação total ao serviço do Reino.
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Izabel Patuzzo