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Regressão

A palavra “regressão” pode ter diversos significados, dependendo do contexto em que é utilizada, sobretudo no campo da psicologia. Por exemplo, em psicanálise, corresponde a um mecanismo de defesa através do qual o indivíduo retorna a um estágio anterior de desenvolvimento psicossocial, como forma de lidar com situações difíceis ou traumáticas. Também em psicoterapia se usa a palavra “regressão” para se referir a procura de uma potencial causa de uma perturbação atual num trauma psicológico ou a precipitação de uma doença somática ou mental no passado.

As terapias que fazem uso da regressão procuram levar o indivíduo a reviver experiências passadas, muitas vezes sob hipnose, com o objetivo de entender e resolver questões emocionais presentes. Ao reviver experiências passadas, o indivíduo pode encontrar as raízes, reais ou imaginárias, dos seus problemas e desenvolver novas perspetivas para lidar com as dificuldades do presente.

No contexto da psicologia transpessoal, a terapia regressiva refere-se à prática que permite aceder a vivências passadas e que tem como objetivo reviver cenas traumáticas do passado, que podem incluir o momento do parto, a vida intrauterina ou mesmo pré- intrauterina. Há que ressaltar que não é necessário o paciente acreditar em supostas vidas passadas, pois o psicoterapeuta encarregar-se-á de trabalhar as vivências que surjam. Estas podem ser entendidas como metáforas do inconsciente, projeções de mitos pessoais ou vivências de arquétipos. Muitos terapeutas entendem-nas como vivências atuais que são deslocadas para outro tempo, personagem ou espaço, como modo de defesa, como já descrito pela psicanálise. Num estado dissociado temporariamente da realidade, e.g. sob hipnose, será mais fácil lidar com os conteúdos traumáticos. A ideia que subjaz a esta abordagem é a de que eventos passados, mesmo que tenham sido esquecidos ou reprimidos, podem continuar a influenciar as nossas vidas de forma inconsciente. O paciente revive a experiência, revivendo sensações, emoções e pensamentos daquela época. Com o auxílio do terapeuta, processa essas emoções e procura novas perspetivas sobre o evento, e.g., transformar crenças limitantes, resolver conflitos internos e aumentar a compreensão mais profunda de si mesmo e dos seus padrões comportamentais.

A regressão deve ser realizada por um profissional qualificado. É fundamental que o terapeuta tenha experiência em hipnose e em trabalhar com o inconsciente. Não existem garantias de sucesso. A eficácia da regressão varia de pessoa para pessoa e depende de diversos fatores, como a motivação do paciente e a natureza do problema.

Assim, a regressão é utlizada por diversas abordagens terapêuticas como instrumento de elaboração de traumas passados e tratamento dos seus efeitos ainda presentes.

Numa abordagem mais recente das técnicas regressivas, o coaching Trajetória de Vida Positiva faz preceder a regressão a vivências traumáticas (denominada Via Lacrimosa) a uma outra regressão a memórias saudáveis da infância até à idade adulta (denominada Via Jubilosa). Pretende-se com isso fortalecer a estrutura egoica e o otimismo, antes das vivências penosas do passado e da sua reciclagem.

Também noutros contextos científicos se usa a palavra “regressão”, igualmente com uma conotação com o passado. Em biologia, a regressão pode referir-se ao regresso de um tecido ou organismo a um estado menos desenvolvido. Em linguística, pode significar a recuperação de um significado arcaico para uma expressão moderna. Já em estatística, a regressão estabelece qual a relação entre uma variável dependente e uma ou mais independentes.

 

Bibliog.: COLÁS, Osmar Ribeiro, Temas de Hipnologia, Osmar Ribeiro Colás/Improta Gráfica e Editora, 2020; FREUD, Sigmund, The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, ed. e trad. James Strachey et al., Minnesota, Hogarth Press, 1971; RE, Tânia S. et al., “Transcultural perspective on consciousness: Traditional use of ayahuasca in psychotherapy in the 21st century in Western world”, Cosmos and History – The Journal of Natural and Social Philosophy, vol. 12, n.º 2, 2016, pp. 237-249; SIMÕES, Mário, “Altered states of consciousness and psychotherapy – A cross-cultural perspective”, The International Journal of Transpersonal Studies, n.º 21, 2002, pp. 145-152; SIMÕES, Mário et al., “Psicoterapia trajectória de vida”, in MARTO, José M. e SIMÕES, Mário, Hipnose Clínica: Teoria, Pesquisa e Prática, Lisboa, Lidel, 2013.

 

Mário Simões

Marisa Oliveira

Autor

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