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Relação intratrinitária

O termo “Trindade” (τρια) surge no cristianismo através de Teófilo de Antioquia (186), Hipólito de Roma (170) e Orígenes (c. 185-254). O seu uso reporta-se ao contexto batismal de Mateus 28, 19, com a fórmula batismal.

No séc. iv, com os padres capadócios Basílio Magno (330-379), seu irmão Gregório de Nissa (†349) e Gregório Nazianzeno (329-390) (BOFF, 1987, 7), desenvolve-se a reflexão sobre as relações entre as três Pessoas Divinas (três hipóstasis) como primeira realidade. As Pessoas significam a existência singular, concreta e individual. Cada Pessoa está em relação com as outras Pessoas, a começar pelo Pai, fonte e origem da divindade.

Basílio, a partir da fórmula de Mateus 28, 19, afirma que a comunicação entre as três Pessoas no batismo manifesta o Espírito Santo na união com o Pai e o Filho na mesma dignidade de louvor na sua unidade e comunhão. A comunidade adora uma única divindade em três Pessoas, um só Deus. A essência é, assim, comum às três Pessoas, que se distinguem entre si por serem diferentes características do Deus único. Esta teologia perpassa os concílios de Constantinopla (381) e de Calcedónia (451) contra as controvérsias cristológicas.

Na afirmação de que Deus é relacional, os padres da Igreja adotaram o termo “pericorese”, já utilizado na cristologia, referente às duas naturezas de Cristo. Perichoresis significa “conter um ao outro”, “inabitar” (morar no outro), “estar no outro”. Nazianzeno foi o primeiro a aplicar o termo na relação entre as duas naturezas de Cristo (Perichoresis cristologica), e João Damasceno (†749) o que mais o divulgou. Com Burgúndio de Pisa, no séc. xii, o termo passa para a versão latina ocidental, circumincessio, e, mais tarde, circuminsessio, palavra derivada de sedere, sessio, que significa “sentar-se”, “ter a sua sede”. Com este termo “entendemos a mútua compenetração e inhabitação das três pessoas Divinas entre si” (OTT, 1969, 130).

Os teólogos atuais, como, e.g., Boff, Moltmann e Forte, afirmam a pericorese, i.e., que o Filho está no Pai e no Espírito, que o Espírito está no Pai e no Filho e que o Pai está no Filho e no Espírito, sendo essa a relação intratrinitária de Deus, fundamentando-se no seguinte comentário de Jesus: “Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti, para que também eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). Assim, pela pericorese, ou comunhão, evita-se o triteísmo.

 

Bibliog.: BOOF, L., A Trindade e a Sociedade, Petrópolis, Vozes, 1987; DAMASCENO, G., La Fede Ortodoxa, Roma, Città Nuova, 1998; GREGORIO DI NAZIANZO, Tutte le Orazioni, org. Claudio Moreschini, Milano, Bompiani, 2000; OTT, L., Manual de Teologia Dogmática, Barcelona, Herder, 1969.

 

Maria Freire da Silva

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