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Seita

As discussões académicas acerca do conceito de seita (e de igreja) não são novas: Feuerbach, Weber, Troeltsch e Niebuhr já se debruçaram sobre esse assunto no início do séc. xx, assim como, posteriormente, o sociólogo Bryan Wilson.

O conceito de seita é bastante complexo e tem um duplo significado:

1) Secta – cortar: um pequeno grupo (de rutura) que se separou da sua religião (ou instituição religiosa) original, passando a reivindicar a legitimidade teológica, a inovação, a versão autêntica e purificada da fé. Possui um líder carismático (messias, profeta, guru) que oferece, aos que procuram os “bens de salvação”, novos comportamentos religiosos e doutrinas. São exemplos desta categoria de seita: o bramanismo/hinduísmo, com múltiplos ramos, tradições e denominações; o budismo, com várias tradições e escolas; e as três religiões abraâmicas – judaísmo (ortodoxo, conservador e reformista), cristianismo (católico romano, ortodoxo e protestante) e islamismo (xiita e sunita).

2) Sequi – seguir: um grupo organizado de membros de uma determinada doutrina filosófica e/ou religiosa. Possui um poder centralizado num único líder carismático, um “iluminado”, que recebeu o chamamento de Deus, do demónio ou de outras entidades sobrenaturais, ao qual os seguidores devotam uma obediência cega. Os neófitos abandonam o seu meio social (família, trabalho, escola) para viver na comunidade sectária, cujas normas comportamentais são extremamente rígidas. Defende e pratica a violência; é fanática, alienante e autodestrutiva; pratica o autoisolamento; é fechada e intolerante relativamente às normas gerais da sociedade.

De uma maneira geral, o conceito de seita (incluindo as vertentes secta e sequi) apresenta as seguintes características: 1) nasce normalmente no seio de um movimento religioso mais amplo e reivindica a exclusividade, o monopólio da “verdade” religiosa; 2) o líder religioso é o mensageiro da “verdade suprema”; 3) o fundador lega aos seus fiéis, de forma oral ou escrita, as suas experiências marcantes do contacto com o sagrado; 4) apresenta uma estrutura organizacional simples e pouco burocratizada; 5) é uma associação voluntária, mas exclusivista, i.e., os membros não podem pertencer a uma outra organização; 6) os neófitos, que “(re)nascem” numa nova espiritualidade, consideram-se os “eleitos”, escolhidos por Deus, pelo líder (o guru) ou por outra entidade religiosa para desempenhar um importante papel de “salvação” do mundo; 7) o proselitismo é seletivo, i.e., a tentativa de conversão incide apenas sobre um número reduzido de pessoas; 8) apoia-se na conversão pessoal, que implica mudanças radicais no modo de vida e uma forte componente emocional; 9) busca uma “perfeição” holística como ser humano; 10) adota ideias e comportamentos muito próprios e exclusivos; 11) retira os seus membros do seio familiar e da sociedade para viverem em grupo, impondo, assim, os seus próprios critérios morais e de comportamento e obrigando-os a tomarem parte em (quase) todas as atividades do grupo; 12) com a exigência de uma fidelidade cega ao líder, quem defender opiniões contrárias às doutrinas ou violar as normas básicas de comportamento é punido internamente; dependendo da gravidade da situação, poderá ser expulso, perseguido pelo líder/grupo e até mesmo pagar com a própria vida o ato de traição; 13) quanto à relação com a sociedade, o Estado e as igrejas e religiões históricas (oficiais e/ou maioritárias), tem um carácter contestatório, no que se refere aos valores, aos costumes e às normas sociais predominantes; 14) as seitas radicais são pouco (ou nada) dialogantes e defendem energicamente as suas ideologias, provocando, quase sempre, um isolamento do mundo; 15) as mais radicais, fundamentalistas, adotam uma atitude hostil, até mesmo de violência, relativamente às pessoas e às instituições da sociedade na qual estão inseridas.

 

Bibliog.: RODRIGUES, Donizete, Sociologia da Religião: Uma Introdução, Porto, Afrontamento, 2007; WILSON, Bryan, Religious Sects: A Sociological Study, London, Weidenfeld and Nicholson, 1970.

 

Donizete Rodrigues

 

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