Do latim simplicitate, “simplicidade” faz menção à qualidade daquilo que é simples, natural, espontâneo, elegante, ingénuo, singelo, íntegro, fundamental, puro, franco, aberto, sincero, perfeito, generoso, liberal, desembaraçado, etc. (FERREIRA, 1999, 1827). Também se diz da postura daquele que age com retidão, ou seja, sem duplicidade. Remete para aquele que procura transmitir uma mensagem com clareza e agir com precisão, bem como tudo para aquilo que não apresenta dificuldade ou obstáculo.
Segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe, a palavra grega haplotes (“simples”) surge sete vezes no Novo Testamento e refere-se à pureza básica de coração e de vida, i.e., ausência de segundas intenções (PFEIFFER et al., 2006, 1823). Para o educador brasileiro Paulo Freire, não há uma rutura entre a ingenuidade/simplicidade – aqui usaremos o termo “ingenuidade” como uma referência ao quinto significado do termo “simplicidade” – e o pensamento crítico, mas uma superação, na medida em que a curiosidade ingénua se torna uma curiosidade crítica e, ao afastar-se do senso comum, se torna metodicamente rigorosa. “Pensar certo, em termos críticos, é uma exigência que os momentos do ciclo gnosiológico vão pondo à curiosidade que, tornando-se mais e mais metodicamente rigorosa, transita da ingenuidade para a curiosidade epistemológica” (FREIRE, 1996, 29). Para o autor, a curiosidade ingénua que se torna crítica torna-se capaz de se aproximar do seu objeto cognoscível ao deixar a ingenuidade e tornar-se criticidade, i.e., muda a qualidade, mas não a essência do “pensar certo”. Este pensar certo é, para Freire, uma aproximação, a partir de um modo metodicamente rigoroso, das dúvidas ou das certezas, o que não implica a anulação do sujeito cognoscente face ao abjeto cognoscível, mas uma postura curiosa que faz avançar da espontaneidade “desarmada” (Ibid., 38) para uma assunção de si enquanto sujeito histórico e crítico. Desse modo, há uma radicalidade que faz superar a ingenuidade/simplicidade primeira e acede a uma compreensão integral do objeto.
Bibliog.: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Aurélio Século XXI. O Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999; FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, São Paulo, Paz e Terra, 1996; PFEIFFER, Charles F. et al., Dicionário Bíblico Wycliffe, trad. Dégmar Ribas Junior, Rio de Janeiro, CPAD, 2006.
Guilherme de Oliveira