O estudo sociológico da religião remonta aos finais do séc. xix e coincide com o início da formalização da sociologia. As escolas pioneiras surgiram com Émile Durkheim e Max Weber e desenvolveram teorias que ainda hoje permitem compreender o estatuto religioso na sociedade contemporânea. Enquanto subsistema cultural, fenómeno de grupo, objeto construído, forma de autoridade, produto e produtora de relações sociais, projeção humana de um cosmos sagrado, a religião depende do contexto sociocultural e histórico em que se inscreve e desempenha um papel fundamental na manutenção ou mudança dos processos e das instituições.
O que interessa à sociologia da religião não é tanto a religião em si, mas a religiosidade, i.e., as manifestações empíricas, a estrutura, influência e dinâmicas da vida dos grupos, o papel recorrente da religião em todas as sociedades. A concretização destes objetivos requer uma abordagem interdisciplinar com a filosofia, a teologia, a história, a psicologia e, de forma muito marcada, com a antropologia. A sociologia da religião contemporânea integra, também por isso, uma grande pluralidade de pontos de vista, e os seus debates apresentam três níveis de linhas de investigação que se entrelaçam: societal, organizacional e individual.
A operacionalização do conceito de religiosidade requer um questionamento multidimensional que inclua gradações e variantes (em maior ou menor conformidade com a ortodoxia da religião em causa), tanto da prática como de atitudes e perspetivas do mundo. Refira-se, a título de exemplo, as dimensões ritualista, experiencial, consequencial, ideológica e intelectual. O estudo sociológico implica, porém, que o investigador se aproxime do fenómeno religioso com a neutralidade e a objetividade possíveis. Não compete à sociologia tomar posição sobre a verdade ou falsidade da religião, mas contribuir para uma melhor compreensão da realidade social.
Pela diversidade das temáticas abordadas, e no contexto desta obra, apresentam-se quatro nomes de investigadores portugueses doutorados em sociologia que importa registar: Moisés Espírito Santo (religiosidade popular), António Teixeira Fernandes (cruzamento entre a sociologia política e a sociologia da religião), Helena Vilaça (pluralismo religioso e minorias religiosas) e Eduardo Duque (religiosidade juvenil).
Bibliog.: COUTINHO, José Pereira, Religião em Portugal. Análise Sociológica, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2020; DUQUE, Eduardo, Mudanças Culturais, Mudanças Religiosas. Perfis e Tendências da Religiosidade em Portugal numa Perspetiva Comparada, Vila Nova de Famalicão, Edições Húmus, 2014; GLOCK, Charles, “On the study of religious commitment”, Religious Education, n.º 62, 4, 1962, pp. 98-110; JOHNSTONE, Ronald, Religion in Society, New Jersey, Pearson Prentice Hall, 2007; RODRIGUES, Donizete, Sociologia da Religião. Uma Introdução, Porto, Edições Afrontamento, 2007; TEIXEIRA, Alfredo, Um Mapa para Pensar a Religião, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2015; VILAÇA, Helena e OLIVEIRA, Maria João, A Religião no Espaço Público Português, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019.
Helena Gil da Costa