A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

Spaemann, Robert

Nascido em Berlim em 1927, Robert Spaemann foi um filósofo alemão que se destacou pelos seus trabalhos nas áreas da ética, bioética, religião e filosofia política, desempenhando um papel igualmente relevante no debate sobre a ecologia e os direitos humanos. Spaemann fez parte da chamada “Escola de Ritter” (Ritter-Schule, sc., Schule von Münster), um grupo de estudiosos – ou, de acordo com Spaemann, “um círculo de amigos que tinham sempre um interesse comum por certas questões e que, talvez de forma mais forte do que a aparentada Escola de Gadamer, levaram a sério o político [das Politische] como filosoficamente relevante” (Leggewie, 1987, 154 e 158) –, fundado por Joachim Ritter, que, em “reação” a empreendimentos filosóficos como os de Hegel e Marx e no seguimento de uma tradição hermenêutica, desenvolveu uma filosofia da cultura (Kulturphilosophie) marcada por uma crítica filosófica/política da Modernidade, designadamente pela defesa de um conservadorismo liberal (cf., e.g., OTTMANN, 2005; HACKE, 2006, 16).

Nos seus vários trabalhos – dos quais se salientam Glück und Wohlwollen (1989) e Personen (1996) –, Robert Spaemann opôs-se à eutanásia, quer no plano ético, quer em termos da sua liberalização social (cf. em particular o seu artigo publicado, em 2005, na Stuttgarter Zeitung: “A eutanásia é apenas um outro termo para matar”). Spaemann fundamenta esta posição com a incompatibilidade entre a dignidade da pessoa (que, para si, não depende de determinadas características, como o ter consciência de si, antes corresponde a qualquer coisa intrínseca ao ser humano) e a relativização do seu direito à vida (cf. RITTER, 2007). Por outro lado, também o prolongamento artificial da vida foi objeto de críticas, pois, segundo Spaemann (2015, 40), em ambas as situações “o ser humano seria enganado no ato de morrer”.

No campo da ética animal, a sua posição foi também inequivocamente contra as experiências em animais, sc., contra qualquer justificação “científica” sobre o sofrimento voluntário infligido a seres vivos, independentemente de se tratar de um ser sem consciência, mas, antes, pelo facto fundamental de este ou aquele animal ser suscetível de sentir dor (cf., e.g., SPAEMANN, 1980).

Por sua vez, as suas considerações sobre religião (em especial, o cristianismo) radicam na convicção de que há um nexo entre razão e fé, ou melhor, que a fé tem, pelo menos até certo ponto, um carácter racional (e tanto quer dizer, por outra parte, que é possível algum discurso sobre Deus e que tal discurso tem alguma validade e legitimidade). Um dos pontos centrais da sua “filosofia da religião” está na compreensão do ser humano como imagem de Deus e na ideia de que esse ser-imagem-de-Deus significa que o ser humano foi criado como ser finito, limitado, mas ao mesmo tempo também capaz de alcançar a verdade (SPAEMANN, 2006).

Robert Spaemann faleceu em Estugarda em 2018.

 

Obras de Robert Spaemann: Glück und Wohlwollen (1989); Personen (1996).

 

Bibliog.: impressa: BEXTEN, Raphael E., “Person und Natur bei Robert Spaemann und an sich”, Forum Katholische Theologie, vol. 33, n.º 2., 2017, pp. 98-112; HACKE, Jens, Philosophie der Bürgerlichkeit, Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 2006; Kruse-Ebeling, Ute, Liebe und Ethik. Eine Verhältnisbestimmung Ausgehend von Max Scheler und Robert Spaemann, Göttingen, Unipress, 2009; Leggewie, Claus, Der Geist Steht Rechts. Ausflüge in die Denkfabriken der Wende, Berlin, Rotbuch/Verlag, 1987; NISSING, Hanns-Gregor (ed.), Grundvollzüge der Person. Dimensionen des Menschseins bei Robert Spaemann, München, Institut zur Förderung der Glaubenslehre, 2008; Ottmann, Henning, Platon, Aristoteles und die Neoklassische Politische Philosophie der Gegenwart, Baden-Baden, Nomos, 2005; RITTER, Henning, “Zeitgenössisch. Philosoph der Person: Robert Spaemann zum Achtzigsten”, Frankfurter Allgemeine Zeitung, 05.05.2007; Spaemann, Robert, “Welt des Grauens”, in WEISS, Ilja (ed.), Kritik der Tierversuche, Kübler, Lampertheim, 1980; Id., “Sterbehilfe ist nur ein anderes Wort für Töten”, Stuttgarter Zeitung, 26.10.2005; Id., “Euthanasie”, Die Zeit, n.º 7, 12.02.2015; Zaborowski, Holger, Robert Spaemann’s Philosophy of the Human Person: Nature, Freedom, and the Critique of Modernity, Oxford, Oxford University Press, 2010; digital: Spaemann, Robert, “Die Vernünftigkeit des Glaubens”, comunicação proferida na Katholische Akademie in Bayern a 14 de outubro de 2006: https://www.deutschlandfunk.de/die-vernuenftigkeit-des-glaubens.691.de.html?dram:article_id=50064 (acedido a 28.08.2020).

 

Samuel Oliveira

Autor

Scroll to Top