Na Europa, as universidades surgem na Idade Média, por volta do séc. xi, fruto do desenvolvimento interno das escolas monásticas e catedralícias, com o auge dos estudos teológicos e filosóficos promovidos por intelectuais como Pedro Abelardo (1079-1142) e Alexandre de Hales (1185-1245), bem como pelo forte influxo da ciência e teologia árabes, à época muito mais avançadas que as do Ocidente, contribuindo ainda para o seu aparecimento a organização gremial da sociedade que ocasionou uma corporação de mestres e discípulos dedicados à investigação e à docência, ganhando lugar de destaque a escola franciscana de Oxford, onde pontificaram Roger Bacon, o Doutor Admirável (c. 1214-c. 1294), Duns Scotus, o Doutor Subtil (c. 1266-1308), e Guilherme de Ockham, o Doutor Invencível (c. 1280-c. 1349).
O nome inicial Studium Generale (Estudo Geral) não designa qualquer plano que abranja os ramos do saber, mas sim uma instituição que congrega estudantes habilitados aos estudos que pretendem prosseguir sem fazer qualquer tipo distinção de raça e nacionalidade. Só em finais do séc. xiv passou a representar o agrupamento das ciências num estudo geral ou universal do saber, passando a designar-se Universitas (Universidade). Os seus graduados tinham o direito de ensinar em toda a parte, sendo-lhes concedida isenção de serviço das armas, bem como a dispensa de impostos e contribuições, gozando ainda de um tribunal de pares para as suas litigâncias. Organizavam-se à base de faculdades: Teologia, Direito, Medicina e Artes, esta assim designada pelo facto de as artes liberais constituírem as suas matérias de pesquisa, conhecimento geral não profissional pelo qual tinham obrigatoriamente de passar todos os estudantes antes de iniciarem os estudos em qualquer uma das restantes. Tinha por isso a maior frequência e gozava de grande prestígio e influência, naquele tempo das humanidades.
A Universidade de Salerno é uma das mais antigas, de 1090, contando apenas com a Faculdade de Medicina. A primeira universidade organizada pelas quatro secções do conhecimento – teologia, direito, medicina e filosofia – deverá ter sido a de Nápoles, fundada em 1224. A de Paris, fundada em 1201, constituiu-se pela união das escolas monásticas de S. Denis e S. Vítor e a catedralícia de S.ta Genoveva. Em 1290 é criado o Estudo Geral em Lisboa. O primeiro grau académico era o bacharelato, seguido da licenciatura, que já podia aspirar ao cargo de magister na faculdade, e, finalmente, o doutoramento, terceiro e último grau, que exigia nomeação solene: barrete, toga, anel e livro. O ensino passa a requerer pela primeira vez os exames, e os títulos adquiridos são reconhecidos por toda a parte.
O método da pedagogia universitária constava de três fases ligadas entre si: lições, repetições e disputas. A lição (lectio) consistia numa exposição dos livros que serviam de base ao ensino. A repetição (repetitione) consistia nas explicações e comentários das partes difíceis da lição em forma de diálogo entre mestres e alunos. A disputa (disputateo) era o meio para examinar o aproveitamento: disputava-se semanalmente, e a ela concorriam professores e alunos da faculdade; um mestre (magister) pronunciava uma conferência e os restantes professores apoiavam ou opunham-se à sua tese.
Inicialmente, os estudos começaram por ser gratuitos, mas com a progressiva e elevada procura tornaram-se pagos, organizando-se os alunos por nações, com os respetivos professores da mesma nacionalidade. Eram instituições docentes, mais do que de investigação, preocupando-se em transmitir e reter conhecimentos já adquiridos, e não em descobrir novas realidades. A sua organização republicana, o exercício do sufrágio, a frequência das assembleias deliberativas, faziam da universidade uma escola de liberdade e uma oposição à obediência apática.
O prestígio que as universidades foram granjeando levou os reformadores a privilegiarem essa via para a aquisição do conhecimento. A primeira universidade protestante surge no berço da Reforma, Wittenberg, na Saxónia, fundada em 1502 pelo príncipe Frederico, o Sábio, sendo Lutero um dos seus professores mais reconhecidos, contando ainda com alunos como Handel e Schleiermarcher. Seguem-se as de Marburgo (1527), onde, no séc. xx, Heidegger foi professor e Hannah Arendt aluna; de Königsberg (1544), na qual estudaram Kant, Hilbert, Hoffmann e Herder; e de Jena (1558), frequentada por Marx, Fichte, Frege, entre muitas outras.
Nos Estados Unidos da América, as igrejas reformadas abriram diversas escolas superiores, entre as quais Harvard (1636), Yale (1701) e Princeton (1746). No séc. xxi, estas prestigiadas universidades estão completamente adaptadas à realidade do tempo: são científicas, materialistas, pragmáticas, acolhem os alunos cognitivamente mais capazes e procuram a melhor formação técnica possível.
O mesmo acontece com as universidades católicas espalhadas por todo o mundo, mesmo que aí a educação teológica e a formação dos futuros sacerdotes continuem a ser basilares. Quanto ao restante ensino, o maioritário, não se distinguem de qualquer outra instituição similar, onde a prática do cristianismo é alheia ao seu normal funcionamento, uma vez que professores, alunos e restante pessoal vivem, na sua maioria, longe dos ideais cristãos, quer na teoria, quer na prática, diferenciando-se apenas num ou noutro aspecto simbólico e decorativo, como as capelas e os crucifixos.
Bibliog.: CRUZ, Guilherme Braga da, O Essencial sobre a História da Universidade, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008; FEIJÓ, António M. e TAMEN, Miguel, A Universidade como Deve Ser, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2017; LARROYO, Francisco, História Geral da Pedagogia, 2 vols., São Paulo, Mestre Jou, 1969; RUEGG, Water e RIDDER-SYMOENS, Hilde (coord.), Uma História da Universidade na Europa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1996.
Artur Manso