As beguinas nasceram de maneira espontânea na Diocese de Liège, no período que compreende os anos 1190 e 1230 d.C., e estenderam-se pela região que, no início do séc. xxi, compreende a Bélgica, os Países Baixos, a Inglaterra, a França e a Alemanha. Eram mulheres celibatárias (solteiras ou viúvas) que não pertenciam ao estado de vida religioso, nem a uma Ordem reconhecida pela Igreja. No princípio, algumas viviam sós, como reclusas, e outras, em comunidades pequenas. Vestiam um hábito, mas sem professar os votos de vida religiosa. Esta forma de vida quase religiosa podia ser permanente ou temporária. Conhecem-se casos de algumas que mudaram de estado de vida para contrair matrimónio.
Desde aproximadamente 1230, começaram a formar comunidades maiores, cortes ou cúrias (curiae beguinarum, em latim), espaços conhecidos como “beguinatos”, com uma ou mais igrejas, hospital, vários edifícios para o serviço, conventos para a vida comum e casas mais pequenas em que podiam viver sozinhas ou com algumas companheiras.
Atraíam mulheres de todos os estados de vida: jovens ou viúvas procedentes da nobreza ou das classes altas urbanas, que viviam de rendas ou de outros benefícios familiares; mulheres de classe média que ganhavam a vida como professoras ou viviam do comércio; mulheres que realizavam serviços de enfermagem ou trabalhadoras da indústria têxtil. Além disso, algumas mulheres do âmbito rural entravam para os beguinatos pelas oportunidades que aí encontravam de alcançar a independência económica num ambiente protegido.
As mais conhecidas distinguiram-se pela sua intensa vida espiritual ou mística, tendo mesmo aparecido estigmas no corpo de algumas. A sua liberdade de espírito e as heresias da Baixa Idade Média contribuíram para que fossem alvo de desconfiança por parte do clero. Mas diante do florescimento das comunidades e graças ao apoio de alguns clérigos, como Jacques de Vitry (1160/1170-1240/1244), que escreveu a Vida de Marie d’Oignies, o Papa Gregório IX concedeu-lhes a aprovação em 1233. A partir dessa data, aumentou o número de beguinatos, com novas fundações.
Nos sécs. xiii e xiv cresceram em tamanho e capacidade. Os mais desenvolvidos conseguiram alojar várias centenas ou até mil mulheres. Existiam diferenças consideráveis entre as diversas comunidades ou até numa mesma comunidade. Num mesmo recinto, umas beguinas podiam viver de forma contemplativa, dedicadas ao estudo e à vida mística, enquanto outras preferiam a vida ativa, consagradas às obras de caridade, trabalhando em ambientes seculares e com poucas das típicas obrigações da vida religiosa.
No começo, a sua espiritualidade estava muito marcada por Cister e, algum tempo mais tarde, pelas Irmãs da Vida Comum. Quando surgiram as ordens mendicantes, algumas afiliaram-se à Ordem Terceira Franciscana e a outras ordens terceiras.
Bibliog.: INOGÉS SANZ, M.ª Cristina, Beguinas. Memoria Herida, Madrid, PPC, 2021; MCDONNELL, Ernest W., The Beguines and Beghards in Medieval Culture. With Special Emphasis on the Belgian Scene, New York, Octagon Books, 1969; MURK-JANSEN, Saskia, Brides in the Desert. The Spirituality of the Beguines, Oregon, Wipf & Stock, 1998; SIMONS, Walter, Cities of Ladies. Beguine Communities in the Medieval Low Countries 1200-1565, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 2001; SIMONS, Walter, “Holy Women in the Low Countries: A Survey”, in MINNIS, Alastair e VOADEN, Rosalynn (dir.), Medieval Holy Women in the Christian Tradition c.1100-c.1500, Leuven, Brepols, 2010, pp. 625-662.
Miguel Norbert Ubarri