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Dinâmica mental

A palavra “dinâmica” tem a sua origem no grego dýnamis, que significa “força”, aparecendo, por isso, ligada, nas várias áreas do conhecimento, ao movimento, à intensidade e à interação. A palavra “mental” reporta-se à mente (do latim mens, mentis, que significa “pensamento”, “intelecto”, “espírito”) ou aos processos da mente. Em psicologia, a palavra “dinâmica” aparece associada à motivação e/ou a processos mentais, conscientes e inconscientes, e emocionais que desencadeiam atitudes, ações e interações.

O nosso cérebro é o “local da atividade mental, da codificação da informação sensorial, do início do movimento” (ALONSO e ESQUISÁBEL, 2018, 29) e a neuroimagem permite-nos afirmar que “O cérebro encontra-se em desenvolvimento toda a nossa vida” (NORDENGEN, 2018, 183), uma vez que goza de neuroplasticidade, i.e., “a capacidade de os circuitos neuronais se reorganizarem em resposta a determinadas circunstâncias (sejam elas de natureza interna, como em resposta a uma lesão cerebral, ou externa, como em resposta a um treino intensivo) e refere-se à capacidade intrínseca dos neurónios para criar, modificar ou desfazer conexões sinápticas baseando-se na aprendizagem, na experiência, na repetição ou no hábito” (SEPULCRE, 2019, 97). No Ocidente cresce o interesse pela dinâmica mental. Todavia, a consciência e a mente estão milenarmente presentes nas quatro nobres verdades do budismo: (1) a verdade do sofrimento que assenta no sentimento, ligado a emoções perturbadoras, negativas; (2) a origem desse sofrimento que tem a ver essencialmente com essas emoções, ainda que possa estar ligada a causas físicas; (3) cessar o sofrimento, sendo uma qualidade da mente a eliminação dessas emoções; (4) o caminho para chegar à cessação que reside na transformação da mente. Também Jesus Cristo acentua a necessidade da metanoia, colocando o acento na tomada de decisão e ação do sujeito: “A tua fé te salvou” são palavras que revelam, acima de tudo, o potencial que existe no ser humano para acreditar e mudar radicalmente a sua vida. Assiste-se atualmente a um avanço nos estudos, ao nível da neurociência e da neuroteologia, sobre as repercussões positivas da vivência religiosa e espiritual no nosso cérebro e na nossa mente. Estudos com monjas carmelitas, com monges budistas e com hindus revelaram que são ativadas, durante as experiências de interioridade, de oração, de contemplação e de meditação, as redes neuronais associadas à empatia e também os neurotransmissores como a serotonina, a dopamina, a noradrenalina e o glutamato, ocorrendo atividades, na área do lobo frontal e no sistema límbico, desencadeadoras de paz interior, bem-estar e felicidade, que são fortalecedoras do próprio sistema imunitário, com ganhos para a saúde física e mental das pessoas.

 

Bibliog.: ALCOCER, Maria Inês López-Ibor e OTERO, Ana Maria de Luis, O cérebro religioso, Lisboa, Atlântico Press, 2019; ALONSO, José Ramón e ESQUISÁBEL, Irene Alonso, Da alma à neurociência – Breve história do conhecimento do cérebro, Lisboa, Atlântico Press, 2018; NORDENGEN, Kaja, O poder do nosso cérebro – Desvendando os segredos da mente humana, 1.ª ed., Lisboa, Planeta Manuscrito, 2018; SEPULCRE, Jorge, Redes cerebrais e plasticidade funcional – o cérebro que se modifica e adapta, Lisboa, Atlântico Press, 2019; SUA SANTIDADE O XIV DALAI LAMA, “A Mente e a Ciência”, in CORREIA, Carlos João (coord.), A mente, a religião e a ciência, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2003.

 

Maria Nazarete Costa Catré

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