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Escrivá de Balaguer y Albás, Josemaria

S. Josemaria Escrivá nasceu em Barbastro, Espanha, a 9 de janeiro de 1902 e morreu em Roma, Itália, a 26 de junho de 1975. Ordenado presbítero a 25 de março de 1925, fundou o Opus Dei, por inspiração divina, a 2 de outubro de 1928. À data da sua morte, o Opus Dei contava com cerca de sessenta mil membros de oitenta nacionalidades, de múltiplas profissões e de todos os estados de vida. Escrivá foi canonizado a 6 de outubro de 2002, por S. João Paulo II.

O que caracteriza a espiritualidade de S. Josemaria, o seu caminho de santificação e o dos membros do Opus Dei é o encontro com Deus na vida do dia a dia, na normalidade do trabalho e do descanso, das relações familiares e sociais, do cuidado das coisas pequenas, só visíveis aos olhos de Deus. Numa famosa homilia proferida em 1967 no campus da Universidade de Navarra, instituição criada sob o seu impulso e da qual era magno chanceler, exprimiria esta ideia com um conjunto de imagens retiradas da materialidade: “Encontramo-nos num templo singular; poderíamos dizer que a nave é o campus universitário; o retábulo, a biblioteca da Universidade; além, a maquinaria que levanta novos edifícios; e, por cima de nós, o céu de Navarra” (ESCRIVÁ, 2019, 251). Mais adiante, enunciava vigorosamente as condições da vocação de um cristão normal chamado por Deus: “Deus espera-nos todos os dias num laboratório, no bloco operatório de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, em casa, em todo o imenso panorama do trabalho. […] Escondido nas situações mais comuns, há algo santo, divino, que compete a cada um de vós descobrir” (Id., Ibid., 252).

S. Josemaria compreendeu que a correspondência a este chamamento do meio do mundo, sem abandonar a vida que se levava antes de se ter recebido o dom da vocação, mas fazendo dessa vida, de toda ela, ocasião de encontro com Deus, teria de ser alimentada por uma relação estreita com as três pessoas divinas. Uma relação concretizada em vários momentos de dedicação exclusiva à oração durante o dia, na frequência de sacramentos, numa direção espiritual regular e num conjunto de meios de formação, que ajudam a apurar o ritmo da luta ascética. Tudo isto apoiado numa aguda consciência da filiação divina e na união a Cristo, à sua Mãe e a S. José.

Característica peculiar da vida espiritual de S. Josemaria era a sua íntima relação com a humanidade santíssima de Cristo, mantida através de um constante diálogo, que se alimentava da celebração diária e piedosa da missa, das frequentes visitas ao Santíssimo Sacramento e do recurso diário à Palavra de Deus, quer através da leitura pessoal e meditada dos evangelhos – que conhecia intimamente e cujos episódios e personagens estavam sempre presentes na sua pregação –, quer através da liturgia. Tal relação com Cristo Deus e homem era sugerida a todos, com a recomendação de que lessem o evangelho com a proximidade de quem vive aquelas cenas como uma personagem entre as outras.

Outro rasgo típico do seu espírito – aliás, muito facilitado pelo seu temperamento, mas indo para além dele – era a alegria e o bom humor. O sorriso era uma constante da sua expressão, e as graças evocativas, os trocadilhos, as anedotas, ocorriam muitas vezes nas suas conversas e na sua pregação, com essa arte rara de rir com, sem nunca rir de. A exortação à alegria fazia parte dos seus temas habituais, salientando que um filho de Deus nunca pode estar triste.

Josemaria Escrivá tinha um temperamento forte e vigoroso, que foi muito trabalhado por uma vida em que teve de se confrontar com as dificuldades próprias de quem tem a missão de ser fundador – uma vida que muitos outros conheceram, na Igreja e no mundo. Daqui resultou um carácter apaixonado, burilado por purificações, procuradas ou aceites, nos períodos em que a sua saúde foi mais precária. E era com paixão que expressava o seu amor à Igreja e ao papa – fosse quem fosse –, a sua terna devoção a Maria santíssima e a sua veneração ao sacerdócio, como serviço.

Ao longo da sua vida, S. Josemaria viveu algumas experiências espirituais extraordinárias, das quais falava raramente. Assim, por exemplo, sobre a fundação do Opus Dei, sempre disse que, naquele momento específico, viu o Opus Dei em toda a sua completude, salientando que a iniciativa de a fundar não fora, em nenhum sentido, sua. Em 1931, Deus marcou-lhe na alma um dos traços fundamentais do espírito do Opus Dei, a filiação divina, fazendo-lha sentir de modo intenso e místico num momento específico em que circulava de elétrico pelas ruas de Madrid, o que provocou nele uma reação expansiva que o levou a bradar pelas ruas “Abba, Pai, Abba, Abba”. Em 1937, no contexto da Guerra Civil de Espanha, quando fugiu da zona “vermelha” para a zona “nacional”, atravessando os Pirenéus, recebeu um sinal divino de que a sua fuga era da vontade de Deus, sob a forma de uma rosa de madeira – a Rosa Mística, invocação da ladainha lauretana – aparecida nos escombros de uma capela em ruínas. Noutros momentos cruciais do desenvolvimento do Opus Dei, recebeu diversas moções interiores extraordinárias a respeito do caminho a seguir, mas sempre salientou que estas intervenções divinas eram excecionais e de nenhum modo deviam ser tomadas como necessárias para a santidade dos cristãos correntes.

Os seus restos repousam sob o altar da Igreja de Santa Maria da Paz, em Roma, a igreja prelatícia do Opus Dei, situada na cripta da sede central da instituição.

Obras mais relevantes: Camino, compilação de pontos de meditação publicada em 1939 e traduzida em mais de cinquenta línguas; Via Crucis, meditação sobre a Paixão de Cristo (1981); dois volumes de homilias, Es Cristo Que Passa (1973) e Amigos de Dios (1977); e uma coletânea de entrevistas, Conversaciones con Mons. Escrivá de Balaguer (1968).

 

Obras de Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás: Camino (1939); Conversaciones con Mons. Escrivá de Balaguer (1968); Es Cristo Que Passa (1973); Amigos de Dios (1977); Via Crucis (1981).

 

Bibliog.: ESCRIVÁ, Josemaria, “Amar o mundo apaixonadamente”, in Entrevistas a S. Josemaria, Fundador do Opus Dei, Lisboa, Aletheia, 2019; PRADA, Andrés Vázquez de, Josemaria Escrivá. Fundador do Opus Dei, 3 vols., Lisboa, Editorial Verbo, 2002-2004.

 

Maria José Figueiredo

Autor

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