Nasceu em Évora, em 1510, filho de Gil Fernandes Sardinha e de Lourença Fernandes. Estudou Filosofia e Artes na Universidade de Salamanca, tenho concluído o bacharelato em 1527. Pouco tempo depois, D. João III atribuiu-lhe uma bolsa para prosseguir os estudos na Universidade de Paris, tendo recebido o grau de doutor em Teologia na referida instituição, em 1536. Regressou a Portugal a pedido do monarca, que procurou rodear-se de intelectuais, pois tencionava introduzi-los no corpo docente da Universidade, entretanto transferida de Lisboa para Coimbra. Doutorado muito jovem e recebido efusivamente pelo soberano, Álvaro Gomes não foi uma figura benquista no reino, chegando a ter dissabores com o Tribunal do Santo Ofício, pois algumas das suas exposições sobre religião e moral não eram consensuais. Sublinhe-se que o clero quinhentista se ressentiu igualmente com a proteção concedida ao teólogo pelo Piedoso, que o nomeou precetor do cardeal D. Afonso, irmão do rei. Álvaro Gomes foi igualmente feito prior da Igreja de São Nicolau de Lisboa, em 1539, e pregador régio, em data anterior à morte do referido cardeal-infante, ocorrida em 1540. Embora o tenha tentado por diversas vezes, o teólogo eborense não conseguiu ingressar na Universidade de Coimbra. Em 1543, com vista a esse fim, procurou que o núncio papal, D. Luís Lippomano, publicasse a obra Apologia sob a sua égide, o que não se concretizou. Conseguiu, no entanto, tornar-se lente académico, ainda que por um breve período, em 1545, e graças à intervenção régia. No ano seguinte, o Piedoso fê-lo também capelão da Igreja de São Pedro de Daião. A última notícia de Álvaro Gomes data de 1551, através da carta-dedicatória ao bispo D. Pompeu Zambeccari. A crer em Diogo Barbosa Machado, terminou os seus dias servindo a paróquia de São Nicolau, tendo-se desinteressado, obrigatória ou voluntariamente, da docência em Coimbra. No entanto, apesar de marginalizado, o seu contributo para a teologia e a espiritualidade portuguesas é inegável, especialmente através das suas obras: Comentário ou censuras ao registo da sacrossanta Faculdade de Teologia de Paris (1542); Apologia (inédito de 1543, editado em 1980); Tratado da perfeição da alma (1550); De conjugio regis angliae cum reclita fratris sui (1551). Refiram-se as teses do autor relativas ao combate das heresias protestantes, assim como a da imortalidade da alma, negada por muitos estudiosos do seu tempo. Por último, não se descurem os argumentos de Álvaro Gomes referentes à figura do Messias, considerando o autor que as profecias do Antigo Testamento não provam, por si só, que Jesus Cristo é mencionado nos referidos textos.
Obras de Álvaro Gomes: Comentário ou censuras ao registo da sacrossanta Faculdade de Teologia de Paris (1542); Apologia (1543); Tratado da perfeição da alma (1550); De conjugio regis angliae cum reclita fratris sui (1551).
Bibliog.: DIAS, José Sebastião da Silva, A política cultural de D. João III, vol. 1, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1969; MACHADO, Diogo Barbosa, Bibliotheca lusitana, histórica, critica, e cronologica, t. i, Lisboa, Oficina de António Isidoro da Fonseca, 1741; MATOS, Luís de, Les portugais à l’ Université de Paris entre 1500 et 1550, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1950; SÁ, Artur Moreira de, “Introdução”, in GOMES, Álvaro, Apologia (texto inédito do século xvi), Lisboa, IN-CM, 1981, pp. 17-67; SERRÃO, Joaquim Veríssimo, Portugueses no estudo de Salamanca, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1962; Id., “Álvaro Gomes e o ensino da teologia no século xvi”, Revista Portuguesa de Filosofia, t. 38, fasc. 4, Braga, 1982, pp. 543-548.
Francisco Pardal