Natural de Belmonte (Cuenca), onde nasceu em 1527/1528[?], e procedente de uma família bem posicionada de origem conversa, Luis de León professou votos na Ordem de Santo Agostinho de Salamanca em 1544. Possuidor de uma invulgar formação, a partir de 1561 regeu diversas cátedras na Universidade de Salamanca, cidade em que se tornou uma figura intelectual de projeção pública, tão admirada quanto invejada e até polémica. Morreu a 23 de agosto de 1591 em Madrigal de las Altas Torres (Ávila), onde poucos dias antes tinha sido eleito para provincial da sua ordem.
Enquanto escritor, representa um lugar cimeiro da corrente ascética e ocupa uma posição central no cânone literário: constituindo um dos grandes nomes do chamado Siglo de Oro espanhol, a sua obra supõe ao mesmo tempo, contraditoriamente, o apogeu e o ocaso de todo o programa renascentista. A sua produção em prosa, que apenas veio a lume na fase final da sua vida, abrange a língua latina e a castelhana, destacando-se nesta última o diálogo De los Nombres de Cristo (1583). As suas composições em verso, talvez as mais apreciadas hoje, só foram impressas em 1631, numa edição ao cuidado de outro célebre escritor, Francisco de Quevedo.
Imbuído do espírito do humanismo cristão que alimentava os movimentos de reforma dentro da ortodoxia católica próprios do seu tempo, e desde cedo empenhado em assinalar os males que afligiam a sua ordem, apoiou a fundação dos Agostinianos Recoletos, para tanto contribuindo com a redação da Forma de Vivir los Frailes Augustinos Descalzos (1588). Esteve igualmente próximo do ramo descalço da Ordem do Carmo, tendo travado amizade com Ana de Jesus, discípula de Teresa de Ávila – de quem Fr. Luis de León foi, aliás, editor a título póstumo.
Em 1572 espoletou-se um dilatado processo inquisitorial contra si que o conduziu em março ao cárcere do Santo Ofício em Valhadolid, até ser absolvido em dezembro de 1576. Este famigerado episódio resulta do seu questionamento da autoridade da Vulgata e do consentâneo posicionamento a favor do estudo dos originais hebreus da Bíblia, mas também dos enfrentamentos continuados com os seus rivais académicos, nomeadamente os frades dominicanos, que aproveitaram o ensejo para denunciá-lo. Entre os elementos incriminatórios, esgrimiu-se uma sua tradução em vulgar do Cântico dos Cânticos que circulava manuscrita. Voltou a ser delatado à Inquisição em 1582, embora desta feita o processo desembocasse numa mera admoestação.
As constantes tensões que marcaram a existência terrenal de Fr. Luis transportam-se para a sua escrita, na qual exprime os seus anseios por transcender e fugir do “mundanal ruido” à procura de uma harmonia celestial que encontra na natureza ou na música, mas da qual nunca consegue gozar em plenitude.
Obras de Luis de Léon: De los Nombres de Cristo (1583); Forma de Vivir los Frailes Augustinos Descalzos (1588).
Bibliog.: impressa: ALCINA, Juan Francisco (ed.), Fray Luis de León. Poesía, 3.ª ed., Madrid, Cátedra, 1983; ALONSO, Dámaso, “Forma exterior y forma interior en fray Luis”, in Poesía Española, 5.ª ed., Madrid, Gredos, 1976, pp. 121-198; GARCÍA DE LA CONCHA, Víctor e SAN JOSÉ LERA, Javier (eds.), Fray Luis de León. Historia, Humanismo y Letras, Salamanca, Universidad de Salamanca, 1996; digital: COLINAS, Antonio, Fray Luis de León: La Música Razonada, Madrid, Fundación Juan March, 1992: https://www.march.es/conferencias/anteriores/voz.aspx?p1=22063&l=1 (acedido a 24.10.2020); SAN JOSÉ LERA, Javier (dir.), Fray Luis de León, Alicante, Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2008: http://www.cervantesvirtual.com/nd/ark:/59851/bmc2b9f6 (acedido a 24.10.2020).
Ana Belén Cao Míguez